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Mostra em Paris homenageia um dândi indomável

Em 2000, o centenário do desaparecimento do escritor irlandês Oscar Wilde passou em branco em Paris, no momento em que uma exposição literária e biográfica foi realizada em sua memória na British Library, em Londres. Para muitos de seus admiradores, tratou-se de uma injustiça do mundo cultural francês para com um autor que viveu e morreu na capital, em meio à sociedade que admirava e o inspirava. O erro histórico foi corrigido agora pelo Petit Palais, onde a mostra Oscar Wilde, o Impertinente Absoluto ficará em cartaz até 15 de janeiro, retraçando a vida e a obra do autor de O Retrato de Dorian Gray.

Escritor, romancista, dramaturgo e poeta, Wilde é um dos raros mestres capazes de marcar a literatura com textos originais escritos em duas línguas diferentes, no caso o inglês e o francês. Filho de um médico cirurgião reconhecido na Irlanda, cujo hobby era estudar e escrever sobre a história e o folclore de seu país, e de uma poetiza nacionalista, Wilde nasceu em Dublin em 1854. Seu percurso acadêmico e teórico começou a ganhar forma 20 anos depois, quando recebeu uma bolsa de estudos para o prestigioso Magdalen College de Oxford. Estudante de Letras Clássicas, foi também influenciado por dois professores de História da Arte, Walter Pater e John Ruskin, que ajudaram a fortalecer as bases de seu intelecto.

Mas, foi a partir de sua chegada a Londres em 1880 que o brilhantismo de sua obra começou a aparecer para a opinião pública britânica. Em um percurso cronológico, a exposição explica essa ascensão fulminante de Wilde, primeiro como o crítico de arte. Foi por suas mãos que a importância de Grosvenor Gallery, a galeria que começava a promover o “Aesthetic Movement”, ganhou reconhecimento, abrindo caminho a um movimento artístico que contrastava com a seriedade conservadora da Royal Academy.

Nessa época, Wilde lançou luzes sobre obras de novos pintores e escultores, como George Frederic Watts, William Holman Hunt e Edward Burne-Jones. Assim como fez amigos, Wilde deixou desafetos à medida em que atacou reputações, como a do simbolista e impressionista James Whistler. Com uma pequena série de textos controversos, Wilde construiu seu nome em torno de uma reputação de escritor independente e indomável.

Essa fama incipiente de esteta, crítico e teórico, seu gosto crescente pela celebridade e pelo espetáculo e a necessidade de ganhar dinheiro levaram o artista a Nova York, em 1882, para uma série de conferências sobre o conceito de beleza e as artes decorativas. Esse percurso, marcado pelo reconhecimento no meio intelectual, está registrado na exposição por meio de fotografias em que revela seu estilo dândi, como Portrait dOscar Wilde #26, de Napoleon Sarony.

Mas, foi no seu retorno à Europa que sua carreira como escritor e poeta decolou. Em 1888, publicou o conto O Príncipe Feliz e, no ano seguinte, um ensaio filosófico, O Declínio da Mentira, uma obra que o consolidou como escritor, ensaísta e conferencista, fama que culminaria com a publicação de seu único romance, o sucesso mundial O Retrato de Dorian Gray, em 1891. Seus demônios aflorariam pouco mais tarde, com sua perseguição pelo Ministério Público e sua condenação a dois anos de trabalhos forçados pela Justiça por “atos obscenos”, a pena em que incorreu por sua homossexualidade “atestada por testemunhos”, então um crime. “Uma boa reputação”, ironizou, “é uma das inúmeras contrariedades às quais eu nunca fui submetido”.

Ao sair da prisão, Wilde exilou-se em Paris, onde viveu até morrer, três anos depois, em 1890. Rica, a exposição organizada por Dominique Morel, curador-chefe do Petit Palais, e por Merlin Holland, conselheira científica, explica essa trajetória por meio de mais de 200 peças, entre documentos raros ou inéditos, manuscritos, fotografias, desenhos, caricaturas, objetos pessoais e telas vindas do Reino Unido, dos Estados Unidos, do Canadá, da Itália e de diferentes acervos e coleções privadas. Uma primeira digna homenagem de Paris – bem mais rica do que uma mera visita a seu túmulo no Cemitério Père Lachaise. Enfim, a França faz jus ao dândi indomável.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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