Há tempos que existe um tom melancólico na voz do guitarrista Joe Perry para falar sobre os planos do Aerosmith. Sua contraparte, Steven Tyler, cada vez se distancia mais da banda. Primeiro, o vocalista se tornou estrela de TV como jurado do programa American Idol. Recentemente, Tyler lançou um disco de country. Enquanto isso, o Aerosmith definha em turnês sem novidades e discos de estúdio escassos.
Em 2013, na última passagem da banda por aqui, Perry já havia dito que não via sentido gravar novas canções com o Aerosmith, porque, no fim das contas, os fãs queriam mesmo eram os hits das quase cinco décadas de estrada. Três anos depois, o cenário é ainda mais apocalíptico para os fãs do grupo. A banda está em sua penúltima turnê – que passa agora pelo Brasil – e, no ano que vem, dará início à despedida dos palcos.
Perry desistiu de esperar por alguma ação por parte do Aerosmith, já prepara um novo álbum solo e diz estar gostando de se apresentar com o Hollywood Vampires, banda farofa de covers montada ao lado de Alice Cooper e do ator Johnny Depp. “Não consigo ficar longe do estúdio. Se o Steven não gostar dessas coisas que estou gravando, farei delas um disco solo, mesmo”, diz o guitarrista. Leia entrevista:
Quando o Aerosmith não está em turnê, você segue tocando com o Hollywood Vampires. O que tem feito quando não está com nenhuma das bandas?
Eu vou para o estúdio (risos). Estou tentando gravar tudo o que tenho criado. Tenho algumas canções prontas e estou trabalhando nelas nos últimos meses.
Mas isso é para algum projeto solo ou com banda?
Não sei ainda. Não consigo ficar longe do estúdio. Vou mostrar algumas coisas para o Steven (Tyler). Se ele não gostar, farei delas um disco solo, mesmo. São canções de rock and roll. Estou experimentando um pouco, buscando novas formas de compor. Iggy Pop gravou algumas faixas. Estou trabalhando com Alice Cooper também. Esse deve ser meu último disco solo.
Você já se mostrou desapontado com o fato de os fãs da banda só quererem os hits nos shows. Hoje lida melhor com isso?
Essa ainda é uma questão difícil. Eu sei que temos que tocar o que as pessoas querem ouvir. Não tenho problema com isso. Realmente, gosto de pensar que essas canções que o público quer ouvir são aquelas que nos tornaram famosos. Mas ainda tocamos alguns clássicos dos blues, coisas que são nossa herança e não podemos ignorar. Entendo que foram os hits que fizeram a banda durar tanto tempo e devemos respeitar isso. Nunca sabemos quando vamos voltar a tocar em algum lugar, se é que vamos voltar. Então, é preciso dar um último show digno para os fãs que acompanham a banda.
Em 2013, você disse que se sentia vindo de uma máquina do tempo, vindo do passado. Ainda se sente deslocado?
Temos perdido muitos bons músicos nos últimos anos. O Aerosmith continua inteiro. E isso é incrível. Alguém me disse, certa vez, que sou um pedaço de história. Na época, não pensei muito sobre isso, mas hoje eu entendo. Às vezes, me sinto assim, mas olho para o lado, no palco, vejo meus amigos ali comigo, e percebo que não estou sozinho nessa.
Ano que vem começa a turnê de despedida do Aerosmith como Steven Tyler disse?
Não vou mentir ou fingir que isso não existe. Não posso ignorar o fato de que a banda não vai durar para sempre. Tivemos sorte de ter os cinco integrantes no palco. Sei que houve essa história de turnê de despedida, mas realmente queremos tocar mais tempo e em alguns outros lugares. Eu e Steven vamos conversar sobre isso, se teremos um último show. É a natureza da vida, sabe? Vejo os Rolling Stones na ativa, o Buddy Guy. Esses caras continuam tocando. Eu não quero ser uma sombra do que já fui. O que quero dizer é que vamos tocar os shows como se fossem os últimos. Se for uma turnê de despedida, que seja. Estamos vivendo no limite há muito tempo.
AEROSMITH
Allianz Parque. Av. Francisco Matarazzo, 1.705. Sáb. (15), às 21h. R$ 260 a R$ 680.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.