Estadão

Mourão reconhece retórica forte do governo, mas descarta ruptura no século 21

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta segunda-feira que o governo federal tem uma "retórica forte", mas, segundo ele, não está disposto a um golpe de Estado. "Não há espaço para ruptura no século 21", afirmou em entrevista à Rádio Gaúcha. "É algo que tem que ficar muito claro na cabeça de todo mundo."

Nas manifestações de 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro ameaçou o Supremo Tribunal Federal (STF), em tom considerado antidemocrático por especialistas grande parte do mundo político, e teve de recuar da postura apenas dois dias depois após a resposta contundente do presidente da Corte, Luiz Fux, por meio de uma carta de pacificação articulada pelo ex-presidente Michel Temer.

"Há uma retórica forte por parte do nosso governo? Há. Mas não existem ações correspondentes", tentou minimizar Mourão. "Nossas instituições são fortes, nossa democracia é forte e não será mudada com alguns discursos", acrescentou. "Vejo essas questões muito mais uma retórica mais forte por parte do nosso governo do que realmente, de ações que levariam, se houvesse, a uma ruptura."

Ainda assim, o vice-presidente voltou a tecer críticas a ministros do STF. "Já expressei minha visão e continuo com ela até que haja mudança de postura por parte de alguns magistrados", afirmou. "Magistrados têm que se afastar da arena política, isso muitas vezes não está sendo respeitado e acaba por exacerbar esse confronto, esse choque de ideias entre Executivo e Judiciário".

O vice-presidente voltou a elogiar a Declaração à Nação , publicada por Bolsonaro e seu papel de tentar baixar a tensão. "Conversando a gente se entende. Alguém tem que atravessar a rua e dizer minha gente, vamos abaixar a bolinha ".

Mourão evitou jogar a culpa da crise exclusivamente em Bolsonaro e reforçou, mais de uma vez, que o tom elevado era do governo. Ainda assim, ponderou que "muita coisa pode ser dita de forma mais polida. "Você pode defender ideias com veemência, mas sem ultrapassar determinados limites éticos em um relacionamento entre poderes. É isso que a gente tem que buscar nesse momento", acrescentou, reconhecendo que discursos inflamados podem prejudicar o próprio governo. "Retórica mais forte joga cortina de fumaça sobre ações positivas que vêm ocorrendo".

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