A piora das bolsas em Nova York empurra ainda mais o Ibovespa para o campo negativo, que segue renovando mínimas e já opera na faixa dos 95 mil pontos. Nos Estados Unidos, as bolsas também atualizaram as mínimas, com exceção do Nasdaq que sobe na faixa de 0,40%. Os investidores seguem em compasso de espera por sinais do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) quanto à política monetária e a eventuais novas medidas de estímulo à economia. A queda do petróleo no exterior ampara em baixa as ações da Petrobrás na B3, que têm declínio de quase 2,50%, e afeta a Bolsa brasileira, já que têm participação relevante na carteira do índice.
"Tudo vai girar em torno da decisão do Fed e mais especificamente em relação ao que Powell falará", diz o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, ao referir-se à entrevista coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell, às 15h30, após o anúncio da definição dos juros.
Mais cedo o mercado de ações brasileiro parecia disposto a buscar novas marcas nesta quarta-feira que antecede feriado no Brasil e quando a B3 ficará fechada.
O investidor indicava estar afoito a tomar risco, aproveitando um quadro doméstico na política relativamente tranquilo, mesmo com o exterior um pouco mais cauteloso.
Porém, o cenário externo está passou a pesar. Apesar da expectativa de manutenção do juro básico perto de zero pelo Fed, o investidor e especialistas ficarão de olho nas palavras de Powell, para saber suas análises sobre os primeiros sinais mais claros de retomada da economia dos EUA e se adotará mais medidas de estímulo.
"Temos de esperar o discurso do Powell", diz Luiz Roberto Monteiro, operador de mesa institucional da Renascença, acrescentado que o ambiente ainda segue está propício para a Bolsa brasileira ir de encontro aos 100 mil pontos em breve.
O estrategista-chefe da Levante Ideias de Investimentos, Rafael Bevilacqua, diz esperar um tom mais cauteloso de Powell. "Para não virar um oba-oba e inflar ainda mais os ativos, de forma a levar a uma bolha", afirma.
No entanto, Laatus pondera que mesmo que o Fed sinalize com mais reforço à economia, não vê isso como prejudicial. "Se fosse no pós-crise, sim. Mas como o mundo está na fase de crise, isso é importante", pondera.
Na política, Monteiro ressalta que a decisão de adiamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve ser positiva, para o mercado, na medida em que dá mais tempo para o governo. O TSE adiou a conclusão do julgamento de duas das ações que pedem a cassação da chapa Jair Bolsonaro-Hamilton Mourão nas eleições presidenciais de 2018. Além disso, também vê como "positiva" a prorrogação por dois meses do pagamento do auxílio emergencial. Porém, ainda não ficou claro se o valor do auxílio será mantido ou se haverá uma redução.
Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, que caiu 0,38%, ante recuo de 0,31% em abril. A deflação registrada foi menor que a mediana das estimativas na pesquisa do Projeções Broadcast, de queda de 0,46%, cujo intervalo todo era de declínio, indo de 0,61% a 0,35%. No ano, acumula recuo de 0,16% e alta de 1,88% em 12 meses, taxa que ficou acima da mediana de 1,80% das projeções (intervalo de 1,64% a 1,91%).
Ao avaliar em nota o dado, o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, disse que trata-se de uma "grata surpresa", uma vez que os preços do grupo Alimentação eram fonte de preocupação. "O resultado foi conseguido por uma comportamento mais benigno do grupo Alimentação que subiu menos que nas observações anteriores. Para se ter uma ideia, o grupo havia subido 1,79% em abril e agora sobe apenas 0,24%", avalia.
Para um operador, o dado reforça a expectativa de corte de 0,75 ponto porcentual na Selic no próximo Copom, o que tende a ser benéfico para o mercado de ações, já que o investimento continua sendo mais atrativo em relação à renda fixa.