Político cuja trajetória se confunde com a da Nova República, o ex-deputado por 11 mandatos Miro Teixeira está de volta ao PDT após passagens curtas por Rede e PROS. Convidado pelo presidente da sigla, Carlos Lupi, para coordenar a campanha de Ciro Gomes à Presidência em 2022, o carioca de 75 anos topou o desafio, fazendo a ressalva de que é o candidato quem assume, na prática, a função.
Miro diz ser contra o impeachment. Para vencer o presidente Jair Bolsonaro, o ex-constituinte e ex-ministro das Comunicações no governo Lula prega que a campanha retome símbolos nacionais que considera "sequestrados" pelo bolsonarismo e mostre que há um "desgoverno" no País. "Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro", disse, em entrevista ao <i>Estadão</i>.
<b>Por que essa volta ao PDT?</b>
Lupi disse que minhas ideias eram muito parecidas com as que o Ciro vinha travando, e falou para eu voltar ao PDT. Alguns deputados e o próprio Ciro começaram a me escrever, mas foi o Lupi quem comandou o processo. Eles usaram, tanto o Lupi quanto o Ciro, a história de coordenar a campanha.
<b>O sr. vai coordenar?</b>
Olha, eu vi todas as campanhas presidenciais desde o fim da ditadura. Quem coordena a campanha à Presidência é o candidato, não outra pessoa. A função é coordenar programa de governo. O Ciro tem isso aqui, ó (mostra um exemplar do livro "Projeto Nacional: O Dever da Esperança", de autoria do presidenciável). Acho que "dever da esperança" tem que ser o mote da campanha, em cima de outra discussão: temos de gostar do Brasil. Bolsonaro diz que ele é quem gosta do Brasil, usa o verde e o amarelo. Nós é que gostamos do Brasil.
<b>Como será o Ciro de 22, mais à esquerda ou como terceira via?</b>
Ciro tem as ideias dele publicadas. Acho que essa divisão esquerda-direita atualmente é criada por uma extrema-direita que se organizou no mundo para separar as pessoas, dividi-las, e criar uma radicalização que afasta a racionalidade.
<b>Nessa linha, o sr. acha que Bolsonaro ameaça a democracia?</b>
Ameaça à democracia acho que não existe. A democracia está garantida aqui (mostra um exemplar da Constituição). Essa história de dizer que a democracia é o que as Forças Armadas querem Não. Elas estão submetidas à Constituição.
<b>Mas o sr. vê movimentos de Bolsonaro nesse sentido?</b>
Acho que Bolsonaro cria factoides. A oposição não cria problemas, então ele cria problemas para ficar debatendo com ele mesmo. Cria o problema, tem a repercussão na mídia, ele responde a mídia, depois volta atrás. É deliberado. Não estamos diante de um idiota. É uma pessoa preparada para viver na adversidade física.
<b>Como o sr. analisa eleitoralmente o presidente para 22?</b>
Ele é, provavelmente, o único garantido em um segundo turno. Tem público. Não se vai derrotar Bolsonaro odiando Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno. O que está sendo feito para gerar emprego? E para desatar os nós do desenvolvimento?
<b>Como o sr. avalia a aproximação dele com o Centrão?</b>
O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo? Censurar o Bolsonaro por causa do Centrão, que estaria sendo aplaudido se aprovasse um impeachment, é hipocrisia.
<b>Rodrigo Maia devia ter aberto um processo de impeachment?</b>
Fui contra no início. Hoje, você pode encontrar razões para requerer o impeachment do presidente, em função da pandemia. Aquela ordem, por exemplo, que deu a aliados para invadirem hospitais. Estava violentando a Constituição, expondo a vida das pessoas, violando o Código Penal. Mas acho que o objetivo não pode ser o impeachment. No momento, as pessoas não estão clamando pelo impeachment.
<b>O foco é derrotá-lo nas urnas?</b>
Sim. Analisando o desgoverno dele. O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo.
<b>Quem Ciro deve buscar para formar alianças?</b>
Isso vai surgir no curso do processo. Acredito que ele conseguirá um apoio da população para que candidaturas sejam retiradas ainda no primeiro turno. Essa história de combinar segundo turno é para quem não conhece o processo eleitoral. Creio que o Ciro vai empolgar no primeiro turno.
<b>Alguma das forças já colocadas poderiam se unir a ele?</b>
Acho difícil. O PT, por exemplo, não renuncia a uma candidatura própria.
<b>O episódio envolvendo o segundo turno de 2018, quando Ciro foi para Paris, não atrapalha?</b>
Acho que não. Eu nem me lembrava disso até você falar. No segundo turno, o eleitorado não fica esperando quem o seu candidato vai apoiar.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>