Mundo das Palavras

NO MEIO DO PROSTÍBULO

Confira a coluna semanal Mundo das Palavras, assinada pelo jornalista e professor doutor Oswaldo Coimbra

 “Você quer ser freira num prostíbulo”. Com esta frase curta um assessor do ex-prefeito de Belém Dulciomar Costa resumiu sua explicação para a dificuldade encontrada por uma pequena editora do Pará, a Paka-tatu, em colocar seus livros entre aqueles que são aprovados pelos órgãos oficiais para adoção nas escolas.

A explicação foi dada a um dos fundadores da editora, todos professores universitários que sonharam em dotar a Amazônia de uma editora séria, capaz de imprimir obras relevantes para a cultura da região. Ouvi-a apenas o professor Armando Alves o único fundador que ainda se mantém na linha de frente da batalha ingrata travada pelos criadores da editora contra o cinismo expresso por aquele assessor, munido apenas de crença na dignidade humana.

Agora, a imprensa está divulgando um comentário feito pelo ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, sobre a presidenta Dilma Rousseff. Incluído entre os políticos que não medem suas palavras, ele disse que a presidenta, embora “meio arrogante” não é uma má pessoa. Prosseguiu: ela “é decente, trabalhadora”, porém, “muito, muito, muito inexperiente e cercada de gente de quinta categoria”. No final de seu comentário, Ciro introduziu o trecho mais agressivo. Afirmou: Dilma comanda “uma aliança que é assentada na base da putaria”.

Contra esta podridão do ambiente político do país, milhões de brasileiros continuam a se insurgirem, nas últimas semanas, através de manifestações de ruas em muitas cidades. Exatamente neste momento, Dilma recebeu o Papa Francisco em sua visita ao nosso país, no Rio de Janeiro. Ela, então, poderia ter se esquivado da própria arrogância e aproveitado a oportunidade para, na frente dele, pedir perdão aos brasileiros pela cumplicidade com gente de baixíssimo teor moral a que são obrigadas pessoas da geração dela – generosas a ponto de pegarem em armas para tentar livrar nossa população das perversidades da Ditadura Militar implantada em 1964 – quando buscam diminuir, hoje, os contrastes sociais do país.

Dilma teria mostrado diante de câmeras e máquinas fotográficas do mundo os imensos empecilhos colocados numa sociedade como a nossa diante de quem tenta ser útil a seu próximo. Certamente, comoveria muitos brasileiros, e, situaria o discurso dela no mesmo diapasão de simpática modéstia adotado pelo Papa em sua fala.

A presidenta, no entanto, aparentemente cedeu à insegurança gerada pela brutal queda na aprovação de seu governo em pesquisas recentes. E preferiu se auto-elogiar.

Foi imprópria a si mesma e àquelas circunstâncias.

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