A presidente do Peru, Dina Boluarte, afirmou em um pronunciamento nacional que o governo permanece firme após as manifestações nacionais nesta quinta-feira, 19. Os protestos terminaram em violência entre manifestantes e policiais e pelo menos uma pessoa morreu em Arequipa, a segunda maior cidade peruana. Em Lima, a capital, onde milhares de peruanos se dirigiram para uma marcha, um incêndio foi registrado no centro histórico da cidade.
Segundo o governo, os manifestantes invadiram um aeroporto, na cidade de Arequipa, e tentaram invadir outros dois, em Cuzco e em Puno. Com a morte em Arequipa, aumentou para 54 o número de vítimas nos protestos que se iniciaram há cerca de 45 dias. Os peruanos, em grande parte pró-Pedro Castillo, pedem a renúncia da presidente e a convocação de uma Assembleia Constituinte.
No pronunciamento, Dina Boluarte pediu o diálogo, disse que a violência "não ficará impune" e acusou os manifestantes de não terem "agenda social". "Buscam quebrar o Estado de Direito, gerar o caos e a desordem e tomar o poder", declarou. "Ao povo peruano, aos que querem trabalhar em paz e aos que geram atos de protesto, digo: não me cansarei de chamá-los ao bom diálogo, dizendo-lhes que trabalhem pelo país", disse Boluarte.
Na capital, onde ocorreu uma marcha apelidada de "A Tomada de Lima", houve confronto entre manifestantes e policiais após um grupo tentar avançar contra o Congresso e ser impedido pelos policiais com uso do gás lacrimogêneo, iniciando um confronto na avenida Abancay, no centro da cidade. Testemunhas afirmam que manifestantes dispararam paralelepípedos contra policiais em resposta ao uso de gás. Vídeos publicados nas redes sociais mostram eles munidos de pedaços de madeira contra os policiais.
Um grande incêndio nos arredores da Praça San Martín também foi registrado e o Corpo de Bombeiros ainda trabalhava para conter as chamas no início da madrugada desta sexta-feira, 20. Apesar dos danos, Boluarte disse que a situação está controlada.
Além de exigirem a renúncia de Dina Boluarte, os manifestantes também protestaram contra as mortes de peruanos durante os atos. O Ministério Público peruano investiga a presidente por genocídio devido às repressão registrada nos protestos, iniciados após a destituição e prisão do ex-presidente Pedro Castillo por tentativa de golpe de Estado, em dezembro. A presidente, no entanto, culpou os manifestantes e disse que eles instigam a polícia a agir.
<b>Jornalistas feridos</b>
Pelo menos cinco funcionários da emissora peruana <i>América Televisión</i> foram feridos em Lima após um grupo de manifestantes atirar pedras contra o veículo de reportagem. Nas imagens transmitidas pela emissora, um dos agredidos aparece com dois dentes quebrados e o veículo, com os vidros destruídos.
Os repórteres estavam no centro histórico da capital peruana, onde os milhares de manifestantes se reúnem. Um dos jornalistas da emissora relatou que a van em que estavam foi cercada e diversos objetos foram arremessados contra eles, incluindo blocos de cimento.
Os vídeos da emissora mostraram como um grupo de manifestantes cercou a van e jogou diversos objetos contra o veículo, inclusive blocos de cimento, segundo o jornalista que relatou o incidente.
Quase que simultaneamente, a Associação Nacional de Jornalistas do Peru (ANP) denunciou o ataque a outros dois jornalistas, também no centro de Lima. Os repórteres Lourdes Paucar e Willy Nieva foram as vítimas. "Receberam insultos, golpes de paus/tubos, lhes arremessaram objetos/pedras, agrediram com socos e tentaram roubar a câmera e o microfone", detalhou a ANP.
Mais cedo, a ANP afirmou que policiais retiraram jornalistas que cobriam os confrontos com manifestantes e denunciou a situação de risco como "uma clara restrição à atividade informativa". A entidade pediu à polícia que fornecesse segurança aos repórteres.
Os manifestantes chegaram à Lima convocados pela Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru após saírem principalmente das regiões de Cuzco, Ayacucho, Cajamarca, Puno e Apurimac. As autoridades mobilizaram cerca de 11,8 mil policiais para conter os manifestantes.
<b>Confrontos em outras regiões</b>
Os conflitos entre manifestantes e policiais também tiveram continuidade nesta quinta-feira em outras regiões do país. Em Arequipa, a segunda maior cidade do Peru, manifestantes invadiram o aeroporto internacional e pelo menos uma pessoa morreu nos confrontos. A polícia afirma ter contido a invasão e reportagem da agência <i>EFE</i> presenciou pelo menos um avião militar e um veículo blindado.
Segundo o jornal peruano <i>El Comerci</i>o, cerca de 200 pessoas invadiram o local depois de quebrarem a cerca de metal, munidos de pedras e pedaços de madeira. As operações do aeroporto estavam suspensas desde às 13h (horário de Brasília, 11h em Lima) por decisão do Ministério dos Transportes, que temia uma invasão
Na região de Puno, um homem morreu nesta quinta-feira no Hospital San Martín de Porres, onde estava sendo tratado após os confrontos ocorridos na quarta-feira, 18. A vítima foi identificada como Salomón Valenzuela Chua, de 30 anos.
O secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Peruanos (CGTP), cuja organização está por trás da marcha, previu um protesto de longa duração até a renúncia do presidente. "As marchas continuarão. Todas as regiões do país disseram que não voltarão a seus lugares de origem até que Dina Boluarte renuncie", disse à <i>AFP</i> o líder sindical Gerónimo López. (Com agências internacionais).