Opinião

No primeiro mês, prevalece mais Dilma e menos Lula

Diferente do que muita gente poderia imaginar, a presidente Dilma Roussef (PT), em seu primeiro mês de mandato, foi muito mais ela do que o ex-presidente Lula. A imagem da campanha eleitora, quando demonstrava estar realizando um esforço sobrenatural para parecer forte e senhora de si, nestes 30 dias inciais se comportou como chefe do executivo e não como uma personagem da propaganda do governo tão propagada nos últimos dois anos. Até durante sua maior aparição pública, quando visitou o pior desastre humano vivido no país, pareceu sóbria. 


 


Neste primeiro mês, as vantagens da regra democrática da alternância do poder ficaram evidentes. Mesmo pertencedo ao mesmo grupo político, Dilma fez prevalecer seu estilo diferente, ainda que seja em nome da continuidade. Se, no comportamento, o balanço inicial é positivo, ainda há pontos de interrogação e preocupação em erros e omissões. 


 


Dilma ainda peca em seguir valorizando em demasia o ex-presidente José Sarney, que não é tão decisivo no controle da base partidária do PMDB. Nas vésperas de eventos internacionais importantes, como Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016, a escolha de Pedro Novaes para atender a um coronel no seu ocaso é uma insensatez.


 


No caso dos passaportes especiais concedidos por Lula a seus familiares a pessoas próximas, a ordem do governo foi clara e correta: rever toda a lista dos que receberam esse direito, e limitar essa concessão a quem está a serviço do país. Logicamente que tudo isso sem bater diretamente em seu mentor e principal envolvido na concessão indiscriminada de passaportes.


 


Em relação à regulação da mídia, a primeira ideia que saiu do Ministério das Comunicações foi das piores: proibir as empresas de terem ao mesmo tempo jornal ou televisão e rádio na mesma cidade. Jornal não é concessão. TV e rádio são. Sobre esses setores o governo tem o poder concedente e regulador desde que não o use para censurar. O segundo erro foi pensar em veículos de comunicação como se fossem prisioneiros do espaço físico na era da internet. Felizmente, o ministro Paulo Bernardo foi socorrido pela lógica e passou a expressar ideias mais contemporâneas nessa delicada área, em que a tecnologia é fonte de mudança constante e em que a liberdade é valor permanente.


 


Já na relação com o Congresso, que volta aos trabalhos nesta terça-feira, Dilma pode estar cometendo um erro político. Ela precisaria ocupar a pauta com propostas do Executivo. Mas não o faz  porque ela teme o desgaste de propor grandes reformas. Prefere trilhar o caminho das mudanças consensuais. Desta forma, sem uma grande  ambição inicial , corre o risco de virar refém de  brigas entre grupos de interesse de sua fragmentada base parlamentar. Um mês é muito pouco tempo para uma avaliação mais aprofundada do que serão os quatro anos de Dilma. Mas serve para dar indícios. Talvez, ela possa sim se superar.

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