Opinião

Transportes, um problema que atravessa décadas

Atribuir culpa somente a atual administração pelo fracasso na implantação do novo sistema de transportes de Guarulhos seria uma das maiores injustiças que poderiam ser cometidas neste momento. Se a população, que por todos os cantos, reclama sobre uma série de problemas que vem enfrentando desde o último dia 10 de janeiro, sempre é bom voltar um pouco no tempo e tentar perceber o que ex-prefeitos fizeram pelo transporte nos últimos anos.


 


Já na gestão de Néfi Tales, a partir de 1997, Guarulhos passou a vivenciar uma série de conflitos com o advento das lotações que surgiram em 1996. Na época, as peruas Kombi apareceram justamente para suprir deficiências no sistema de transportes, que tinha duas ou três empresas comandando as linhas e fazendo o que queriam com os passageiros. Alguns anos antes, o próprio prefeito Paschoal Thomeu chegou ao poder sendo proprietário de uma empresa, estabelecendo, na época, uma relação um tanto complicada entre poder público e privado.


 


Néfi, por sua vez, na medida do possível, tentou regulamentar um sistema que já nasceu fracassado. As lotações não respeitavam normas e circulavam pelas ruas como bem entendiam. Os passageiros, por sua vez, carentes de um transporte de qualidade, passaram a adotar as peruas como uma das únicas formas de seguir a seus destinos. Com o afastamento de Néfi, o vice Jovino Cândido, em 1998, assumiu a Prefeitura.


 


Pela força, os perueiros conseguiram se estabelecer e passaram a integrar oficialmente o sistema. Foi o período da regulamentação, quando as vans começaram a ocupar os espaços das Kombi e oferecer, de certa forma, um pouco de conforto à população. Não demorou e cerca de cinco centenas delas, devidamente identificadas, tomaram as ruas, a partir de roteiros definidos, com horários a seguir e assim por diante. Bem ou mal, o sistema – mesmo não sendo o ideal – funcionava.


 


Já a partir de 2001, quando Elói Pietá (PT) assumiu a Prefeitura, muito pouco foi feito para modernizar o sistema. Apesar de uma determinação federal exigir que o sistema de transportes passasse por um processo de licitação, os problemas foram sendo empurrados com a barriga. Os prometidos terminais, compromisso de campanha daquele prefeito, jamais saíram do papel. As empresas, entre elas, negociavam as linhas e procuravam atender, mesmo que de forma precária, os interesses dos usuários. A frota até que chegou a ser renovada, mas sem uma ampla reforma que pudesse demonstrar alguma mudança efetiva de comportamento.


 


Já Sebastião Almeida adotou no final de sua campanha eleitoral o tema do Bilhete Único como uma de suas principais propostas. Ganhou a eleição e, infelizmente, não conseguiu implantar o novo sistema como deveria. De forma lamentável, se rendeu a interesses de alguns grupos e apostou em uma “fórmula mágica” que não caberia em Guarulhos. Lógico que ainda é cedo e mudanças são possíveis para ao menos tentar minimizar os problemas. Mas que ninguém se iluda. A ideia de um sistema moderno,  tão “vendido” e comemorado pela administração, está longe de ser viabilizada. Pelos erros atuais e passados.  Não adianta vir a públido e admitir erros. Precisa enfrentá-los e corrigi-los.

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