Economia

Nova Zelândia aposta no setor de lácteos nacional

Maior exportador mundial de leite e derivados, com 34% do mercado mundial, a Nova Zelândia está investindo no Brasil na melhoria da qualidade e produtividade, apostando no potencial do setor de lácteos nacional. Nádia Alcântara, gerente de negócios de agronegócios da New Zealand Trade & Enterprise (NZTE), agência de desenvolvimento de negócios da Nova Zelândia no Brasil, cita a diferença de produtividade leiteira entre os dois países como um ponto a ser abordado. Na Nova Zelândia, em uma propriedade são ordenhadas 400 vacas por hora. No Brasil, são menos de 200 vacas/hora. “É justamente essa diferença que pode ser uma oportunidade para o país da Oceania”, disse.

Outra diferença é a remuneração do produtor. Conforme a especialista, os produtores da Nova Zelândia recebem pela produção de sólidos no leite – lipídios (gordura), carboidratos, proteínas, sais minerais e vitaminas -, enquanto que no Brasil ainda se remunera pelo líquido. “Empresas como a Itambé, DPA/Nestlé e Piracanjuba estão começando agora programas que incentivam uma melhor qualidade do leite e a remuneração mais alta pelos sólidos. É uma tendência, já que cada vez mais se amplia a presença das empresas em itens de maior valor agregado, como queijos, requeijões. E as empresas na Nova Zelândia também enxergam aí uma oportunidade de investimentos no Brasil”, explicou.

A cooperativa neozelandesa Fonterra, maior produtora mundial de lácteos, é uma das empresas que estão no Brasil, mas também estão sendo atraídas consultorias. É o caso da QCONZ América Latina, filial da Quality Consultants. Com sede em Belo Horizonte há cinco anos, a empresa vê acontecer no Brasil o que a Nova Zelândia viveu há 30 anos: não há ainda um padrão internacional de produção e certificação sanitária que impulsione as exportações de leite e remunere melhor o produtor nacional.

“Nossa estratégia até agora foi trabalhar nesse gargalo da qualidade do leite no Brasil. Vemos também como a mão-de-obra precisa se capacitar para aumentar a produtividade”, disse o diretor da QCONZ no Brazil, Bernard Woodcok. Segundo ele, o início do trabalho da consultoria no Brasil foi ajudar a aprimorar os programas das empresas, como a DPA/Nestlé, nas fazendas, com a implantação de boas práticas. Hoje, a QCONZ participa de programas do governo estadual, como o Sistema Mineiro de Qualidade do Leite, e de entidades, como o Leite Legal, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Senar e Sebrae.

No Sistema Mineiro de Qualidade do Leite, a consultoria treinou funcionários e gestores, com o intuito de formar multiplicadores de boas práticas, de 120 laticínios do Estado. No Leite Legal, cuja participação da QCONZ se deu por meio de licitação, são 100 laticínios. “Estamos treinando 300 produtores por mês, com aulas teóricas e de campo. A nossa atuação é em Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo e Rio de Janeiro e esporadicamente no Sul”, informou.

Conforme Woodcok, as boas práticas não são tão onerosas ao produtor. “Elas são simples, mas funcionais. Por exemplo, ao invés de usar uma caneca para limpar a vaca ordenhada, por que não se utilizar o spray, mais prático, higiênico e usa menos água? Por que não utilizar uma agenda para organização? Melhorar o manejo, pesquisar quais os tipos de fertilizantes, pastagens, genética animal, também são exemplos”, apontou.

Apesar de ver deficiências no setor lácteo brasileiro, o diretor da QCONZ é otimista nas perspectivas para o segmento nacional. “Já estamos vendo um profissionalismo da cadeia no Brasil. Ainda falta uma melhor fiscalização, que acarreta nesses casos de fraude, e uma maior união entre governo, indústria e produtor, mas há uma mudança de fato no setor”, declarou.

Atualmente, o Brasil é hoje o 5° maior produtor de leite do mundo, com cerca de 35 bilhões de litros produzidos anualmente, com um rebanho de 23 milhões de cabeças de vacas. Caso tivesse a mesma produtividade dos neozelandeses, conseguiria produzir 93 bilhões de litros de leite por ano. Por aqui, a produção é de 5% do total consumido no mundo, mas apenas 1% da produção é exportada. Os neozelandeses respondem por 95% das vendas globais de 17 bilhões de litros de leite, com rebanho de 4,2 milhões de cabeças.

Goiás

A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e a Embaixada da Nova Zelândia no Brasil assinaram a doação de um fundo de fomento da produção agropecuária de países em desenvolvimento. No total, R$ 65.700 serão repassados aos produtores de leite do Estado participantes do programa “Balde Cheio”, por meio de 219 quadros de controle de reprodução. Por meio desses quadros é possível realizar um manejo reprodutivo, com informações como data de inseminação, parto, período de lactação, entre outros.

Além disso, a empresa neozelandesa LIC/NZ Brasil doou aos produtores goianos R$ 9 mil em sêmen de três raças oriundas do país: Jersey, Frisson e Kiwicross. O diferencial das mesmas é a alta produtividade comparada às raças mais comuns no País. A Kiwicross, em especial, é híbrida de Jersey e Frisson e foi desenvolvida na Nova Zelândia.

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