Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Organizador Rio-2016, admite que a Baía de Guanabara não vai ficar totalmente limpa para os Jogos Olímpicos no ano que vem. Ele avalia que a meta de despoluição de 80% das águas, projetada pelo governo do Rio, foi subestimada no início. Mas não considera o problema como exclusivo dos Jogos do Rio.
A pouco menos de um ano da realização da Olimpíada, Nuzman garante que a maioria das obras do complexo esportivo está dentro do prazo e projeta que não haverá atrasos, mesmo com algumas empresas envolvidas na Operação Lava Jato. E sustenta a projeção feita pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) de o País garantir um lugar no Top 10 no número de medalhas conquistadas. Confira os principais trechos da entrevista de Nuzman concedia ao Grupo Estado em visita à sede da empresa nesta semana.
A Baía de Guanabara é a principal preocupação do Comitê Rio-2016?
Não é uma grande preocupação. Quando surgiram os primeiros problemas com a Baía, fomos atrás do que aconteceu em outra olimpíadas. Temos um dossiê das dificuldades que organizadores tiveram com as águas nas competições em Sidney (2000), Atenas (2004), Pequim (2008) e Londres (2012). Todos eles enfrentaram problemas com poluição e as provas aconteceram sem grandes percalços. Entregamos o dossiê ao governo do Rio. Acreditamos que os atletas vão competir sem transtornos.
Os atletas terão problemas com a poluição das águas?
Entendemos que não. Acabamos de realizar um evento-teste nesse fim de semana com pouco mais de 300 velejadores e apenas dois sentiram mal. Alguns atletas estrangeiros, que vão participar de provas na Baía de Guanabara no ano que vem, já estão morando no Rio para se adaptarem à condição das águas. Vão passar quase um ano no Brasil se adaptando à cidade e aos locais das provas.
O comitê organizador confia que as obras do complexo esportivo serão entregues dentro do prazo?
Temos certeza que não sofrerão atrasos, mesmo com muitas empresas envolvidas na Operação Lava Jato tocando as obras. Por enquanto está tudo dentro da normalidade. Vila Olímpica era 70% de uma dessas empresas e o condomínio está quase pronto.
Quando a Vila Olímpica vai ser entregue?
Os responsáveis pela obra queriam entregar agora. Nós pedimos para que fosse entregue na data-limite estabelecido no cronograma que é no início de março de 2016. A Vila ficar pronta antes do Parque Olímpico foi uma estratégia da nossa candidatura aos Jogos em 2009. Deu certo. Já temos tudo quase pronto para receber os atletas. Isso tem um peso significativo na Olimpíada.
Sem comparar com a Copa do Mundo, quando tivemos muitos torcedores turistas no País, qual a estimativa do Comitê Rio-2016 para o número de visitantes durante os Jogos?
Estamos trabalhando com o número de cerca de 400 mil turistas. Entendo que vai ser um púbico diferente do que esteve na Copa. Na Olimpíada não teremos torcidas organizadas para este ou aquele País como tivemos na Copa. Temos certeza que será uma festa como os torcedores fizeram na Copa.
O Rio tem capacidade para abrigar tanta gente? Teremos hospedagem suficiente?
Penso que sim. É claro que não temos disponibilidade para hospedar todo mundo na rede hoteleira do Rio. Mas fizemos um acordo com a Airbnb (rede de hospedagem em quartos, casas e apartamentos) que deve oferecer até 20 mil quartos.
Mudando a conversa para nossos atletas, o senhor entende que a pressão em cima deles vai ser semelhante ao que jogadores da seleção brasileira sofreram na Copa do Mundo?
A pressão vai ser muito grande, não tenho a menor dúvida. Já trabalhamos há quase um ano para amenizar a pressão, com grupos de estudo, psicólogos, toda uma estrutura voltada aos atletas. Vamos montar a Casa Brasil, próxima ao Parque Olímpico, onde os atletas poderão se encontrar com familiares, patrocinadores, amigos. Ali eles vão ter um espaço para desfrutar desses encontros e não levar para dentro do ambiente das competições.
Mas o Comitê Olímpico do Brasil vai cobrar resultados dos atletas?
Sim. E temos de cobrar mesmo. O atleta tem de se sentir responsável a apresentar resultados.
A meta projetada pelo COB de o Brasil ficar no Top 10 dos medalhistas continua de pé, apesar de alguns resultados fora da curva no Pan de Toronto e Mundiais?
Continuamos com a projeção de o Brasil ficar no Top 10. É uma meta que foi projetada e planejada, e entendemos que é possível atingir.
Qual é o legado que o COB e Comitê Rio-2016 espera deixar dos Jogos do Rio?
O legado são os centros olímpicos que foram e estão sendo construídos em pontos estratégicos. Centros que vão ajudar na formação de atletas e desenvolver polos de formação. Já estamos nos preparando para os Jogos de 2020 com toda uma estrutura montada para formarmos uma equipe direcionada à próxima Olimpíada. Este é um legado importante e uma obrigação.