O escritor paulista Mário de Andrade confessou numa carta enviada, em 1927, para o poeta pernambucano Manuel Bandeira, seu companheiro no movimento modernista literário brasileiro: “Meu único ideal, de agora em diante, é passar uns meses morando no Grande Hotel, de Belém”.
Nove anos depois, a maior cantora lírica nacional, Bidu Sayão, esteve na capital do Pará. Acompanhava-a sua mãe, Maria José de Oliveira Sayão. No seu diário, a mãe da artista escreveu, em 2 de dezembro de 1936: “Chegamos a Belém do Pará, ficando hospedadas no Grande Hotel. Que é magnífico”. Mas o período atormentado da Grande Guerra se aproximava. Na década de 1940, hospedou-se no hotel o gênio do Cinema, Orson Welles, em preparação para a filmagem de “É tudo verdade”, no Brasil. Uma noite, no salão dançante, o Amazon Room, Welles juntou-se à jovem Nieli Llopis para dançar. Ela era filha de Joaquin Llopis, dono do “Politheama” e do “Odeon”, os primeiros cinemas de Belém, inaugurados cerca de 40 anos antes, informa Pedro Veriano, em “Cinema no Tucupi”.
O Grande Hotel atingira sua plenitude. Era o abrigo dos tripulantes dos aviões da Pan American Airways, que pousavam regularmente em Belém. Um grupo de hoteleiros britânicos ligados à empresa de avião, comprou o Grande Hotel, em 1946. Tornando-o o primeiro fora de Londres e marco inaugural de uma gigantesca rede de hotelaria, o InterContinental Hotels Group, hoje, presente, em 104 países.
Nos Anos Dourados de 1950, o Grande Hotel foi o endereço dos grandes bailes de gala. No seu interior, o Cine-teatro Pálace reunia jovens adolescentes, que exibiam decotes, longas luvas e saias compridas estufadas por anáguas. Na década seguinte, contudo, desgraçadamente, o Brasil mergulhou no pesadelo da Ditadura Militar. O hotel já não rendia o suficiente para os hoteleiros ingleses. Em 1974, hotel já pertencia à rede hoteleira norte-americana Hilton. E,foi demolido, sem que a população fosse ouvida. No lugar dele, levantou-se outro espigão inexpressivo, supostamente mais moderno.
O Grande Hotel parecia apagado na lembrança dos profissionais de hotelaria do Brasil. Porém, em 2008, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH divulgou a pesquisa que financiara em busca dos 15 hotéis mais importantes do País, no livro “História da Hotelaria do Brasil”. O Grande Hotel, de Belém, na obra, surgiu logo depois do Copacabana, do Glória – cariocas -, e, do Esplanada – paulistano. Na sua análise da obra, publicada pela Revista Arquiteturismo, a pesquisadora da Universidade de São Paulo, Ana Spolon disse que há quem considere o São Paulo Hilton como o primeiro hotel internacional do país. Mas – ela corrigiu – na verdade, “o Grande Hotel de Belém é que detém o título”.