Bastante admirável e digna de respeito a postura do ex-vice presidente José Alencar, morto na última terça-feira, depois de lutar por anos a fio contra um câncer que acabou por consumi-lo. Em suas diversas internações, sempre retornava altivo e alegre, numa grande luta contra o fantasma da morte, que ele jurava não temer, justamente por não conhecê-la. O homem que bem representou o capital na relação com o trabalho, na figura do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, nos dois mandatos que exerceram juntos, merece sim todas as homenagens que vem recebendo até como chefe de Estado.
Alencar teve todos os méritos por lutar arduamente contra a doença. Não deveria ser diferente. Afinal, acumulou ao longo de sua vida recursos suficientes para buscar os melhores profissionais e centros médicos do mundo, submetendo-se inclusive a tratamentos experimentais fora do país, caríssimos, diga-se de passagem. De origem simples, soube vencer na vida e tornar-se o principal acionista de um dos maiores grupos têxteis do Brasil, condição que lhe proporcionou a vaga de vice na chapa de Lula.
Justamente pela posição política e financeira, Alencar gozou de privilégios que nem de longe chegam a imensa maioria da população brasileira. Pessoas comuns, numa evidente desigualdade de condições, jamais teriam a chance de lutar pela vida como ele. Primeiro que padecem nas filas dos hospitais públicos, asisstidos pelo SUS, em busca de algum tipo de atendimento. Sem obter sucesso, invariavelmente muitos morrem durante os tratamentos, quase sempre precários, ou até sem obtê-los.
Até aqueles que conseguem, a duras penas, pagar algum plano de saúde, sofrem para conseguir enfrentar diferentes tipos de doenças. Vira e mexe há notícias sobre essas empresas de saúde privada que buscam brechas nas leis e nos contratos firmados para se eximir de determinados tratamentos. Geralmente, o consumidor – muito mal assistido – acaba levando a pior. Desta forma, em um país como o Brasil, ser um herói na luta pela dignidade, como foi José Alencar, é algo quase impossível. Muito mais pela omissão do poder público do que pela vontade que essa gente tem de viver.