Economia

Operadoras de shoppings mudam estratégia de crescimento

As companhias operadoras de shopping centers vêm realizando uma mudança gradual em sua estratégia de crescimento. Após vários anos focadas nas inaugurações, a preferência está mudando para projetos com menor dose de risco, como, por exemplo, expansão dos shoppings que já estão em funcionamento.

Diante de um período de incertezas, empresários consideram mais seguro apostar em empreendimentos cuja performance já é conhecida em vez de começar projetos a partir do zero.

Os novos shoppings continuarão sendo desenvolvidos, mas outras opções têm ganhado peso no mercado, como permuta de terreno para construção de torres corporativas anexas, aumento da participação nos ativos do portfólio e aquisição de ativos de outras empresas.

“Vamos começar a utilizar mais essas outras alavancas de crescimento”, afirmou a diretora de finanças e relações com investidores da Iguatemi, Cristina Betts. “Essa mudança é sinal de cautela, mas não quer dizer que vamos crescer menos”, ressaltou.

A mudança nos rumos está relacionada ao movimento de acomodação no setor, que já teve muitas inaugurações nos últimos anos, ampliando significativamente a oferta. Além disso, a perspectiva é de baixo crescimento da economia brasileira, com inflação elevada e crédito mais caro para os consumidores.

Esse esfriamento da demanda fez muitas redes de varejistas e franquias desistirem de abrir novas lojas, de acordo com avaliação de Michel Cutait, dono da consultoria de shopping e varejo Make it Work. “O cenário é reflexo do ambiente recessivo do País”, observou.

Cristina acrescentou que a Iguatemi terá como um dos focos reforçar os shoppings por meio da ampliação da área e ajustes pontuais no mix de lojas para tornar o local mais atraente para os consumidores. A empresa possui atualmente sete projetos em andamento, dos quais quatro se referem a unidades que estão sendo reformadas e expandidas.

A executiva ponderou que os shoppings bem localizados e conhecidos do público permanecem com boa procura de lojistas, especialmente de marcas que estão estreando no Brasil e precisam ganhar visibilidade. Por isso, há centros de compras em cidades do interior do País com muitos espaços vagos, enquanto os shoppings mais famosos e em pontos nobres das capitais têm fila de espera para entrada. “Os lojistas querem estar nos empreendimentos consolidados”, avaliou.

Outra opção em estudo pela Iguatemi é a oportunidade de compra de ativos, especialmente o aumento das fatias detidas nos empreendimentos que já fazem parte de seu portfólio. A empresa possui uma participação de 62,76% de seus 17 shoppings, o equivalente a 393,5 mil m² de área bruta locável (ABL) própria. “Ainda há muito espaço para crescer dentro dessa carteira”, afirmou Cristina, sem descartar aquisição de ativos de outras companhias.

O clima de crescimento moderado também é visto em outras empresas líderes do setor. A Aliansce tem quatro shoppings com expansões em andamento e mais três com previsão para 2015, mas não há nenhum novo empreendimento no atual cronograma. “Os projetos para os próximos dois anos são sinônimo do momento econômico”, disse o superintendente de relações com investidores, Eduardo Prado. “Temos uma série de projetos de greenfield (novos shoppings) analisados, mas nenhum foi adiante”, comentou, citando excesso de concorrência, terrenos caros e regiões com demanda insuficiente de consumidores e lojistas.

Em paralelo, as expansões são consideradas uma alternativa saudável para assegurar o crescimento da companhia, já que os espaços vagos correspondem a apenas 2,9% da ABL do portfólio. “Mesmo num cenário adverso, há procura dos lojistas por um espaço nessas unidades”, ressaltou.

A Sonae Sierra Brasil adotou a mesma estratégia e conta atualmente com dois projetos de expansão e nenhum greenfield. O diretor de operações, Wladir Chao, atribuiu esse posicionamento ao clima de cautela e à concorrência.

De acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), estão previstas 38 inaugurações em 2014, mesmo número de 2013, que foi recorde no País. Esses empreendimentos foram lançados nos últimos anos, num momento de maior euforia com o setor e com a economia brasileira, mas parte pode acabar postergada. “Muitos projetos vão continuar sendo entregues nos próximos dois a três anos. Só devemos voltar a crescer a partir de greenfiels em 2017. Até lá, vamos fazer um trabalho de expansão dos shoppings atuais”, afirmou Chao.

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