Há bichos que teimam em escapar. Todo mundo no Zoológico de São Paulo conhece uma história. Mas poucas foram as vezes que os funcionários dali tiveram de enfrentar uma emergência como a registrada em julho de 2016. Fazia frio no dia da fuga de macacos-prego-do-peito-amarelo da ilha em que vivem no lago principal do lugar.
Quando perceberam a aproximação dos tratadores, eles se jogaram na água e tentaram chegar à margem do lago. Foi um Deus nos acuda. A debandada dos macacos está entre os 32 casos de animais que escaparam do isolamento, do recinto ou de ilha em 2016. Todos foram recapturados. São os macacos os principais fujões no zoo.
Antes do episódio de 2016, o grande lago com suas sete ilhas havia registrado uma outra fuga espetacular. A única testemunha que resta do fato é Giulia, uma macaca-aranha-de-testa-branca (Ateles marginatus). Desde 1971 no zoo, ela viu um macaco-prego (Sapajus xanthosternos) que habitava uma porção de terra vizinha fazer seu plano. Observar o comportamento dos cisnes-pretos (Cygnus Atratus) foi tudo o que o bicho precisou fazer.
As aves são as mais comuns do zoo – ao todo, existem 300 cisnes-pretos e cisnes-de-pescoço-preto no grande lago, que abriga cerca de 600 das 1.590 aves que vivem no parque. Eles se aproximavam da ilha e seguiam, depois, em direção à margem do lago, perto dos recintos dos símios – chimpanzés, orangotangos e gibões. O macaco-prego olhou, olhou e olhou.
Repentinamente, pulou em um cisne preto e o usou como pedalinho para transportá-lo para a liberdade. Foi outro Deus nos acuda, mas o macaco acabou recapturado. Na época, o zoo não contava ainda com suas Equipes Táticas de Capturas (Etac), o Bope do zoológico. Formadas por até 12 profissionais – incluindo dois atiradores, um de anestésico e outro de abate -, elas são mobilizadas cada vez que um desses bichos foge. “Para cada grupo de animal existe uma norma”, afirmou a bióloga Mara Cristina Marques, coordenadora das Etacs.
Para o caso de o fugitivo ser predador perigoso – como leões ou tigres -, a decisão, normalmente, é a do abate para proteger os visitantes. O mesmo se aplica à única ave do zoo que faz parte desse grupo. Trata-se da Casuar (Casuarius casuarius), um bicho de penas pretas e azuis vibrantes, com uma cabeça em que a crista lembra a de um dinossauro. Ela vive na Papua-Nova Guiné e tem garras afiadíssima, como as do personagem Wolverine. Diante de uma ameaça, costuma dar saltos para atacar seu alvo com as garras. “Nunca um animal desse grupo escapou desde a criação do zoo”, afirmou a bióloga.
Logo abaixo desse grupo, designado pela letra A, existe o B, que inclui grandes herbívoros, como as zebras-de-grevy ou de damara e o cervo-dama, que ainda podem apresentar risco para o público, mas de menor intensidade. E, por fim, há o grupo menos perigoso, o C. É neste que se encontram os macacos-prego.
Depois de escapar uma vez da ilha, foi necessário transferir o macaco-prego dali. “Ele podia ensinar os demais”, disse a bióloga Flávia Taconi Campos, da Divisão de Educação e Difusão do Zoo. O bicho foi mandado ao Zoo Safári, mas ali também começou a dar problema. O animal descobriu que havia um ponto cego para os tratadores que abriam e fechavam o recinto dos macacos para permitir a entrada dos carros. E começou a escapar por ali. O fujão acabou transferido para outro zoológico.
“Normalmente, é o homem o principal problema. Não os bichos. São as falhas humanas que permitem que eles fujam”, contou Mara Cristina. De acordo com ela, na maioria das vezes, depois da fuga, os animais tentam voltar, mas não sabem como. O Zoo criou um plano de emergência que prevê cada uma das situações. As Etacs são treinadas por meio de fugas simuladas. Nelas, um funcionário do parque se veste de macaco e, sem que ninguém saiba o dia ou o horário, o “bicho” aparece andando no meio do parque.
Imediatamente os homens do Bope do Zoo são mobilizados e, com armas de paintball, caçam o bicho fujão. Carros, rádio de comunicação, redes e câmeras – para filmar toda a ação – são usados na perseguição. Depois, tudo é assistido para corrigir falhas. “O problema maior é controlar o público para que ele não se exponha”, disse Mara Cristina.