Opinião

Os grandes desafios da nova presidente do Brasil


Dilma Rousseff (PT), a primeira mulher que deve assumir a Presidência, no próximo dia 1º, já começa a trabalhar para montar a equipe de transição de seu padrinho político e maior reponsável por sua vitória no último domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em tese, já que martelou a continuidade durante todo o período de campanha, gabando-se do fato de ser o braço direito do atual presidente, nada precisaria ser modificado.


Mas, naturalmente, Dilma tentará dar sua cara à nova administração. Afinal, foi ela que recebeu os 55.752.529 de votos em todo o País. E, desta forma, trará de volta figuras carimbadas do PT, que foram defenestradas por Lula. Antonio Pallocci, o ex-ministro da Fazenda, que saiu do governo em meio a um escândalo ainda no primeiro mandato do atual presidente, desfilou durante toda a campanha ao lado de Dilma. Obviamente assumirá um posto de destaque. Outro que deve voltar é José Dirceu, tido como o mentor dos esquemas do mensalão, que o derrubaram junto ao colega da Fazenda. Apesar de permanecer escondido, é fiel escudeiro da agora presidente. Para muitos, o verdadeiro responsável por sua candidatura.


Ao assumir a Presidência, Dilma – conforme declarou ao longo da campanha e enfatizou em seu primeiro discurso depois de eleita – precisará ir contra alguns preceitos do próprio partido. Diferente do que prevê o programa do PT, ela verbalizou – inúmeras vezes – que não mexerá com a imprensa, que diz “preferir livre”. Também não deve cometer a insensatez de modificar a lei do aborto, depois que se viu obrigada a mudar de opinião para preservar sua candidatura no segundo turno.


De outra parte, Dilma precisará ser hábil para trabalhar para todos os brasileiros, inclusive para a maioria dos estados que deram a vitória a Serra no segundo turno. No Sudeste e Sul do Brasil, terá que conviver não só com governadores da oposição, mas com uma maioria de eleitores que cansaram do modelo petista. Em São Paulo, por exemplo, maior colégio eleitoral do País, Dilma teve 45,95% dos votos válidos contra 54,05% de Serra. Um resultado até esperado. Afinal, trata-se de um estado em que o PSDB governa há 16 anos e teve Geraldo Alckmin eleitor governador ainda no primeiro turno.


Mais estranho e preocupante para os petistas foi o resultado obtido aqui em Guarulhos, cidade administrada pelo PT há 10 anos, onde José Serra teve a preferência da maioria do eleitorado. Foram 311.328 votos (50,95%) contra 299.757 (49,05%) de Dilma. Seria natural que a candidata repetisse a vitória do primeiro turno, quando teve 39% dos votos contra 35%, já que a máquina da administração municipal trabalhou com unhas e dentes por sua vitória. Comissionados (até secretários) foram às ruas balançar bandeiras, numa tentativa de demonstrar força.


Porém, apesar da oposição local não trabalhar muito no segundo turno, a população – em sua maioria – preferiu Serra. Talvez seja um recado ao prefeito Sebastião Almeida (PT), que chega quase à metade de seu mandato, envolto em uma série de escândalos e poucas realizações de fato. Ainda há tempo de mudar o rumo da administração.

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