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Padre pró-impeachment entra no Senado e distribui presentes

Em meio a tantos homens engravatados, um traje diferente atrai olhares nos corredores do Senado Federal: uma batina. O padre Lázaro Brito Couto, paraibano mas com paróquia em Aracaju (SE), veio por vontade própria para distribuir presentes aos senadores e testemunhar o destino da presidente Dilma Rousseff, que, se depender da vontade dele, será bem longe do Palácio do Planalto.

No dia mais movimentado da última década, em que até o acesso da imprensa está limitado, o padre conseguiu entrar no Senado sem problemas – bastou uma ajudinha do senador Eduardo Amorim (PSC-SE). “Não vim fazer algazarra nem baderna”, garantiu. “Sou um brasileiro, apaixonado por este País e torço muito para que tudo dê certo.”

Padre Lázaro traz um terço no bolso da batina, um agrado que quer, ainda nesta quarta-feira, 11, entregar ao senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator da comissão especial do impeachment. “É um homem sério e preparado. Tenho uma santa inveja da serenidade dele.” Se ele cometeu ou não as chamadas pedaladas fiscais na sua gestão enquanto governador, isso não interessa ao religioso. “Não compete a mim. Isso não pode tirar a minha admiração por ele”, afirmou.

E como o amor de Deus não vê partido, Lázaro também diz “admirar muito” o senador cassado Delcídio Amaral, que era filiado ao PT quando foi preso, acusado de tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato. Motivo: pareceu, aos olhos do padre, sincero ao se dizer arrependido. “Deus perdoa quando há arrependimento verdadeiro”, declara. Em seguida, complementa: “Dizem que ele é muito católico”.

As secretárias dos gabinetes já estão acostumadas a receber ligações de Lázaro. Poucas semanas atrás, telefonou para todos, solicitando votos a favor do afastamento de Dilma. Também pede atenção para seu Estado de origem, a Paraíba. Mas seu repertório de reivindicações é vasto: o próximo pedido é ajudar as rádios AM – muitas delas filantrópicas – a migrar para FM sem o alto custo que estima que será cobrado do Ministério das Comunicações. “É uma ajuda que vou dar para a mídia.”

Das profundezas da batina, padre Lázaro também retirou “relíquias” de Madre Tereza de Calcutá para distribuir aos senadores mais chegados. A primeira a ser abençoada foi a senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE). “Pensam até que sou filho dela, pois nos parecemos. Ela é muito católica.” Outras agraciadas pela lembrancinha foram as senadoras Rose de Freitas (PMDB-ES), pois recentemente “teve um princípio de AVC”, e Ana Amélia Lemos (PP-RS), “pois aparenta ser uma boa pessoa”. O senador Reguffe (sem partido-DF) também recebeu uma bênção. “Teve um filho prematuro, que está no hospital”, disse o pároco.

Collor

Padre Lázaro não revelou a idade, mas disse lembrar vivamente do impeachment do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor (PTC-AL). “Eu me questiono muito, porque dizem que ele caiu por conta de um Fiat Elba. E quando vejo esse escândalo de corrupção da Petrobras, nos fundos de pensão, nas estatais, eu digo: meu Deus, por tão pouco o Collor caiu, então eu acho que o Brasil deveria pedir desculpas a Fernando Collor por tê-lo tirado do cargo.” Ele frisa, porém, que, à época, foi favorável ao afastamento do alagoano, apesar do desgosto da avó, que foi sua eleitora.

Para o padre, um político corrupto tem absoluta capacidade para se regenerar. “Basta recordar de Zaqueu: cobrador de impostos, corrupto e que se converteu. Eu acredito na mudança de vida. Imagine se o marido trair a esposa e não receber dela um voto de confiança?”, ponderou.

Ele alertou que seu posicionamento é pessoal, uma vez que a Igreja, enquanto instituição, alerta apenas para “a situação difícil que o País enfrenta”. “Acho que temos que ter a presença da Igreja no meio político. É fundamental.”

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