As mudanças no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) anunciadas na quarta-feira, 18, pelo Ministério da Educação (MEC) agradaram os especialistas, que dizem que as propostas já são discutidas há vários anos e são um “caminho natural” do exame. Está sendo discutido, por exemplo, que o exame seja realizado em um só dia, em vez de um fim de semana todo, e que seja feito pela internet.
A dificuldade, avaliam, será a implementação de toda a infraestrutura necessária. Outro problema é manter a qualidade técnica da prova.
A superintendente do Centro de Estudos e pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Anna Helena Altenfelder, elogiou a ideia de colocar as possíveis mudanças como consulta pública e diz que as medidas podem ser positivas para o exame. “O Enem digital é uma tendência irreversível, traz uma diminuição de custo”, disse.
Sobre a mudança da prova para apenas um dia, destacou que o mais importante é garantir a qualidade técnica da prova.
Para o economista e ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) Reynaldo Fernandes, o desafio é ter infraestrutura adequada para qualquer tipo de mudança. “O exame online não é o problema, mas haverá estrutura para isso? As pessoas não poderão fazer a prova da casa delas porque deixaria a prova insegura. Haverá computadores para 8 milhões de pessoas?”, afirmou.
Ele ressaltou que a mudança no número de dias da prova também deve ser olhada sob o aspecto técnico. “Vai ter de reduzir a prova. É isso que se quer? Vão ser eliminadas algumas matérias? Sob o ponto de vista logístico, evidentemente é melhor que se faça em um dia, mas é preciso tornar o tamanho da prova compatível e discutir isto tecnicamente.”
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, destacou que as ideias apresentadas não são novas e que é preciso ser apresentado o projeto piloto do Enem online para que verificar se, de fato, haverá redução de custos.
Sobre a prova ser feita em um dia, ele vê a mudança como positiva. “É um exame que tem uma dificuldade logística muito grande.”
Já a certificação do ensino médio, segundo o especialista, deve passar por diálogo antes de qualquer decisão. “Na linha da economicidade, acredito que a prova deveria manter a sua função certificadora. Mas é preciso ter uma discussão aprofundada com os movimentos de educação de jovens e adultos, que têm sido ignorados nos últimos governos.”