Mundo das Palavras

Para que a pressa?

Dentro de alguns dias o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) vai se reunir para tentar resolver problemas envolvendo a polêmica inspeção ambiental veicular (IAV), da capital paulista. No ano passado, de forma equivocada, apenas carros a gasolina, etanol ou flex produzidos entre 2003 e 2008 passaram pela inspeção, ou seja, os de emissões zero ou quase zero, segundo regulamentos de homologação. Mais grave, automóveis licenciados em dezembro, com placas de final 1, foram obrigados a se submeter ao teste após apenas três meses de uso.


 


Em 2009, os aprovados pagaram e receberam de volta a tarifa de IAV. Porém, o tempo perdido no agendamento, pagamento de boleto e deslocamentos inúteis nem enrubesceu os responsáveis pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Em 2010, incluiu-se a frota inteira e a tarifa de R$ 56,44 não é devolvida. Aquela esdrúxula obrigação sobre veículos de primeiro licenciamento continuou e sem justificativa.


 


Na realidade, há uma razão dissimulada. Como a evasão entre veículos mais antigos é e será grande, pelo poder aquisitivo limitado dos proprietários, sustenta-se o equilíbrio financeiro da empresa concessionária impondo ônus aos donos dos carros seminovos. Resultado: outro imposto disfarçado e baixo impacto sobre a qualidade do ar. Noutros países a inspeção começa no terceiro ou quarto licenciamento.


 


Para complicar, vários modelos de automóveis com um ou dois anos de uso, nacionais e importados, estão sendo barrados na IAV, sem motivo aparente. Depois de revisão apurada, continuaram condenados. Polêmica formada, a Anfavea alega que o limite exigido na inspeção – 0,3% de CO – é inferior ao homologado – 0,5% – e explicaria as reprovações. Na verdade, 95% dos modelos emitem 0% de CO ao passar pela homologação. Portanto, um fator de deterioração para 0,3% já inclui grande margem, pondera o órgão ambiental do Estado de São Paulo.


A coluna ouviu engenheiros e especialistas que apresentaram explicações plausíveis. O procedimento de teste inclui aquecimento do catalisador, acelerando o motor até 2.500 rpm, para primeira leitura dos gases. Na prática, o período de descontaminação da sonda de escapamento revelou-se inadequado em alguns casos. Além disso, os 30 segundos em marcha lenta, presumidos na leitura automática pelo computador, também são escassos. Como o programa impede a leitura fora daquele limite de tempo, o técnico se vê obrigado a reprovar o veículo.


 


O advento de motores com aceleradores eletrônicos também aumenta um pouco o intervalo para estabilização e leitura da marcha lenta. Durante o processo de homologação oficial não faz diferença, mas a linha de inspeção tem outra dinâmica – ou pressa – que exige revisão urgente. O motorista pagante nunca poderia ser prejudicado.


A inspeção de ruído – incluída na IAV sem poder de reprovação no momento – ainda suscita dúvidas e também caberá ao Conama solucionar.


 


Dentre de um ano todos os estados e municípios com mais de três milhões de veículos (boa parte do País) deverão estruturar a IAV. O que acontece hoje, na cidade de São Paulo, é uma demonstração de erros inadmissíveis, em algo tão essencial como o ar que respiramos.

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