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Parada do Orgulho LGBT+ volta às ruas e atrai milhares de participantes em SP

A Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo voltou a inundar a Avenida Paulista neste domingo, 19, após dois anos de comemorações remotas, em razão da pandemia de covid-19. Às vésperas das eleições de outubro, a edição deste ano alerta para a importância do voto. Com 19 trios elétricos espalhados pela via, a expectativa da organização era de atrair 3,5 milhões de pessoas – até as 18h, não havia balanço de participantes.

O céu cinzento e carregado de nuvens e o vento frio da manhã não assustaram os participantes, que coloriram a avenida. O retorno às ruas foi marcado por alegria, abraços e reencontros, mas também de consciência política, que ficou evidente na fala dos que passaram por ali. O evento também contou com a presença de autoridades políticas, artistas e influencers.

Por mais que determinados pontos da Avenida ficaram intransponíveis devido a multidão, a festa ocorreu sem incidentes graves até 18h. Havia agentes de segurança à paisana e também grupos de policiais militares em quase todas as esquinas. A reportagem abordou alguns deles, que não falaram em números, mas destacaram não terem recebido muitas ocorrências de furto e violência até 16h.

Estreante na parada, a supervisora pedagógica Ilana Rangel, de 24 anos, veio com as amigas de Maricá, no Rio, para participar do evento. Para ela, ter a parada virtual estava longe de ser ideal. "Foram dois anos péssimos. O movimento é rua."

Amiga de Ilana, Samara Rodrigues, de 23, conta que está emocionada por também poder fazer parte do evento pela primeira vez. Estar na Avenida Paulista, segundo ela, mostra que a comunidade existe. Samara destaca que votar, neste ano, significará resistência e sobrevivência. "Precisamos votar em quem defende a nossa vida."

O mineiro Jean Maia, de 26 anos, concorda que participar da parada em ano de eleição é sempre muito importante. Ele conta que, em 2018, se retraiu e sentiu medo. Mas diz que neste ano será diferente. "A parada é um protesto. Vamos mostrar que estamos aqui, presentes."

Lutar em prol da comunidade também é o objetivo de Mirian da Silva, de 62 anos. "Ser LGBT+ se tornou mais viável, mas temos de continuar lutando. Mudar nossa política", afirma ela, que é uma mulher trans.

O professor Francisco Za Salles, de 39 anos, veio de Itatira, no Ceará, para estar neste domingo na Paulista. "É um ano muito importante para a gente", destaca o professor. "Precisamos dar um basta."

A Parada também atraiu famílias, inclusive com crianças pequenas. Cleidiane Costa e Jailton Costa, de Belém, aproveitaram que estavam na capital para levar o filho deles, Jailton Costa Filho, de 2 anos, ao evento. "Para ele aprender desde cedo a respeitar as pessoas", diz o pai. "A gente acha (a parada) superimportante, principalmente para o nosso filho ter um futuro em que o respeito à diversidade seja maior do que o que vivemos neste momento."

Sofia Santos, de 14 anos, veio acompanhada da mãe, Angela Santos, de 55. "É um momento para celebrar quem você é", explicou a menina. As duas, assim como outras pessoas, utilizavam máscaras e tentavam ficar distante dos locais com maior aglomeração. "Sabemos que o vírus ainda está contaminando", destacou a mãe.

Michael Wagner Bizarro Meri, 38 anos, já veio em diversas paradas. Cadeirante, ele destaca que em comparação com o passado, a edição deste ano estava "mais bem preparada" para receber pessoas com deficiência, porém, destacou que ainda é preciso avançar. "Hoje, eu queria estar lá no trio, só que tem de subir as escadinhas." Ele diz sonhar em ver "toda a galera" do topo do veículo.

Grupos religiosos também marcaram presença no evento. O youtuber Murilo Araújo, conhecido como Muro Pequeno, marchou junto ao "Bloco Gente de Fé", que reuniu pessoas de diversas religiões. No sábado, eles fizeram ato em defesa dos direitos LGBT+ no Largo do Arouche. "Hoje, marchamos na defesa de um País em que os direitos da população LGBT+, negra, das mulheres, não sejam liquidados pelo fundamentalismo religioso", afirmou.

<b>Abertura </b>

A partir das 12 horas, foi feita a abertura oficial, comandada pela drag queen Tchaka. Logo no início, ela puxou 1 minuto de silêncio em memória das vítimas da covid-19 e também em defesa da ciência.

Depois, exaltou os participantes. "Nós somos o tempero desta cidade", destacou. Tchaka também incentivou o voto em outubro, mote da parada deste ano. Na sequência, políticos LGBT+ ou que apoiam as causas da comunidade subiram ao palanque.

O vereador Eduardo Suplicy enalteceu a presença de pessoas trans na Câmara. "Toda força a vocês", falou à multidão. O vereador Thammy Miranda disse ter "muito orgulho" de todos os que participavam da parada. "A gente é resistência. A gente só quer distribuir amor."

Tradicional defensora da causa LGBT+, a secretária municipal de Relações Internacionais, Marta Suplicy, afirmou que a edição deste ano da parada é a mais importante que já participou. "É um momento crucial. Estamos em um retrocesso civilizatório", declarou. "O voto consciente é para onde queremos que o País caminhe."

A deputada Isa Penna ressaltou que a união da comunidade vai ajudar a superar desafios. "Eles vão ter de nos engolir. Nunca mais voltaremos para o armário."

Já Filipa Brunelli, vereadora de Araraquara, lembrou a luta das pessoas LGBT+ em cidades de interior. "São os que mais sofrem com o estigma", disse. "Sou travesti e caipira com muito orgulho."

Ao <b>Estadão</b>, o secretário de Estado da Justiça e Cidadania Fernando José da Costa destacou a importância do retorno presencial da parada. "Esse evento representa o fortalecimento da defesa da diversidade." Ele destacou que São Paulo foi pioneiro na punição administrativa da LGBTfobia. Em seu discurso à multidão, Costa incentivou vítimas de preconceito a fazerem denúncia. "Não podemos mais tolerar LGBTfobia."

Durante os discursos, por várias vezes irromperam gritos de "Fora Bolsonaro". Na Avenida Paulista, as tradicionais bandeiras do arco-íris dividiam espaço com cartazes que repetiam a frase contra o governo ou mostravam a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para Renato Viterbo, vice-presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP), o tema deste ano, "Vote com orgulho: por uma política que representa", é uma chance de mostrar a importância do voto "para pessoas gerais", de esquerda ou direita. "Essas são as políticas públicas que teremos para os próximos quatro anos. A intenção é votar em pessoas LGBTs e aliadas e que o público entenda o tanto que isso vai refletir também na sua família e no entorno", afirmou em entrevista que o Estadão publicou na sexta-feira, 17.

<b>Festa</b>

Logo após as falas das autoridades, o evento tomou tom de festa. Os participantes dançaram embalados por músicas de diversos gêneros e épocas. Os "hits" do TikTok marcaram presença com direito à coreografia. Ao som de "Envolver", da cantora Anitta, e "Anaconda", de Luísa Sonza, alguns jovens se atiraram no chão, no asfalto, para fazer os passinhos que são sucesso no aplicativo de vídeos curtos.

Um pouco depois das 14h, alguns raios de Sol romperam o céu carregado de nuvens. A partir desse horário já era difícil cruzar alguns trechos da Paulista devido à multidão reunida. Próximo aos trios que contaram com apresentações de artistas como Ludmilla, Liniker e Mulher Pepita, era quase impossível se locomover.

<b>Saúde</b>

A Secretaria de Saúde municipal anunciou que conta com três tendas instaladas ao longo da Parada. A ação faz parte da "Semana do Orgulho LGBT+" organizada pela Coordenadoria de IST/Aids. As barracas têm materiais educativos e insumos de prevenção, além de contar com agentes especializados, que oferecem aos participantes testagem rápida de HIV e sífilis e distribuição de preservativos e autoteste para o vírus da Aids.

<b>Segurança</b>

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que mais de 2 mil policiais militares e 254 viaturas fazem o patrulhamento do evento. A ação tem apoio do Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran), do Corpo de Bombeiros e do Grupamento de Radiopatrulha Aérea (GRPAe), que sobrevoa o local com os helicópteros.

A Secretaria destacou que o Estado tem unidade policial especializada nas investigações de crimes de homofobia, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Vítimas e testemunhas podem entrar em contato com a unidade por meio do telefone (11) 3311-3555 ou pelo e-mail [email protected]. Ela também investiga denúncias recebidas através de diversos órgãos, com os Disque 100 e 180.

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