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Peça Alaska traz personagens que se isolam para fugir dos problema

Ator dos mais versáteis, Rodrigo Pandolfo, de 37 anos, também se tornou diretor e confessa que ficou reticente depois da primeira leitura de Alaska, espetáculo que estreia na quinta, 10, no Centro Cultural São Paulo. A peça da dramaturga americana Cindy Lou Johnson caiu em suas mãos em 2019, por intermédio da atriz Louise DTuani, que insistiu em tê-lo no comando da encenação.

Para ele, que vinha de uma única e menos pretensiosa experiência de direção, a comédia A Moça da Cidade (2015), ambientada nos bastidores de uma rádio da década de 1940, algumas situações da obra pareciam obscuras, pouco lógicas. Pandolfo, porém, se sentiu tocado por essa densidade e entendeu que tal emoção não deveria ser desperdiçada. "Quando minha intuição fala, eu costumo escutar e respeitá-la", diz.

Alaska é mais uma montagem que precisou sobreviver aos impactos da covid-19. O projeto quase veio à tona no formato digital no ano passado, mas, hoje, Pandolfo reconhece que os percalços que impediram aquela temporada, como problemas de patrocínio, fizeram a peça chegar ao público no momento certo. "Os personagens escolheram se isolar para não encarar seus problemas e vivemos uma situação parecida porque, mesmo com a pandemia abrandada, continuamos sem saber como agir, perdemos noções de convívio social", afirma.

<b>CLIMA GLACIAL</b>

O "Alaska" do título faz referência ao clima glacial que norteia as relações humanas. Em meio a uma nevasca, Henry (interpretado pelo próprio diretor) tem o sossego quebrado por insistentes batidas na porta de sua cabana. Quem está do lado de fora é Rosannah (papel de Louise), uma mulher, vestida de noiva, que dirigiu milhares de quilômetros até seu carro apagar próximo à propriedade de Henry. "São dois desconhecidos unidos por uma dor profunda, que não conseguem sequer verbalizar por que se afastaram do mundo, mas, aos poucos, começam a entender as razões de seus traumas", explica.

Em duas décadas de carreira, Pandolfo ganhou significativa experiência de palco em montagens dirigidas por Aderbal Freire-Filho, Cibele Forjaz, Bia Lessa, João Fonseca e a dupla Charles Möeller e Claudio Botelho. A popularidade veio com os filmes da trilogia Minha Mãe é uma Peça e participações em novelas e séries de TV, como Cheias de Charme e a recente Verdades Secretas 2, em que representou o traficante Benji. Tamanho estofo, porém, não o impediu de se mostrar fragilizado diante da proposta de Louise DTuani para, além de dirigir, protagonizar o espetáculo. "Fizemos leituras com vários atores, ensaiamos com outro colega, mas, quando foi confirmada a data em São Paulo, todos estavam comprometidos", conta ele, que garante jamais ter imaginado a divisão de funções.

Pandolfo abraçou a dupla jornada no começo de janeiro. Criou processos separados para o intérprete e para o encenador a fim de não misturar as estações e reconhece que, muitas vezes, se atrapalhou feio. "Eu tinha um olhar definido sobre o espetáculo, mas quando entrava como ator eu me perdia, então expus essa insegurança para a equipe, cogitei deixar o elenco e sondamos três outros atores que também não estavam livres", declara. "Depois de dar essa volta toda, eu entendi que o jeito era acalmar meu coração e focar no trabalho do jeito que ele se apresentava para mim."

<b>ADVERSIDADES</b>

Feliz com o resultado que chega ao público, Pandolfo aplica à sua prática de artista lições aprendidas em meio às adversidades da pandemia. A maior delas se tornou um sucesso empresarial, a Barraca Pandoka, inaugurada em setembro de 2020 em Timbau do Sul, no Rio Grande do Norte. Ao lado de sua mãe, Lúcia, e do irmão, o engenheiro mecatrônico Eric, o ator alugou, reformou e colocou para funcionar um quiosque à beira-mar que conquistou clientela fiel.

"Minha mãe vendeu a agência de turismo dela, meu irmão pediu demissão do emprego no Paraná e eu, sem trabalho, entreguei meu apartamento no Rio", conta ele. "Confiantes na intuição, embarcamos para o Nordeste cada um com uma mala de mão e esse sonho foi nossa salvação."

Os irmãos Pandolfo trabalharam de garçom, barman e caixa, recarregaram as energias e, neste 2022, retomam gradualmente suas carreiras originais. Dona Lúcia, porém, se encontrou no litoral potiguar e, feliz da vida, toca adiante a Pandoka.

"Eu aprendi com a minha mãe que, se a situação não está legal, é preciso mudar de rumo, fazer coisas novas", diz. "E quando aparecem desafios que acho que não vou dar conta aplico esse pensamento porque todo mundo sai ganhando", afirma o ator.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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