Entre o discurso de Luiz Inácio Lula da Silva na abertura do 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores, exaltando as conquistas da legenda, e as duras críticas feitas nesta segunda-feira, 22, há uma pesquisa de opinião. O cientista político e especialista em PT, Rudá Ricci, vê o levantamento, que mostra o ex-presidente atrás de Aécio Neves (PSDB) em uma eventual disputa pelo Planalto, como o principal motivo para a radicalização do discurso de Lula.
“Lula já estava sofrendo desgaste em função do PT e do governo, mas lento. A pesquisa mostrou que agora está corrosivo”, avalia Rudá Ricci, que foi integrante do PT até 1993.
Na visão de Ricci, o PT vive uma encruzilhada por contrariar sua história. Lula, percebendo a situação e prevendo dificuldades para a recuperação política e econômica, estaria tentando se descolar do governo e do partido.
Ontem, em evento promovido por seu Instituto, Lula criticou duramente o PT e sua burocracia, acusou correligionários de pensarem apenas em cargos e resistirem à mudança interna. “A questão é que foi ele quem colocou o PT nessa estrada”, diz o especialista.
As críticas ao PT, na opinião do cientista, são propositalmente genéricas. Lula fala do envelhecimento, do apego aos cargos, mas Ricci destaca que o petista não aponta a saída. Para ele, Lula teria dificuldades, depois do que fez em seus 8 anos, de defender abertamente, por exemplo, uma mudança no governo pela taxação de grandes fortunas.
“O Lula tenta criar uma manobra discursiva para, possivelmente, resvalando no populismo, caminhar para dizer ao eleitor que ele não é a Dilma”, analisa Rudá. A manobra, na avaliação do cientista, é arriscada. “Só uma ruptura pública com Dilma causaria um frisson nacional. Só assim Lula seria capaz de articular setores que hoje têm dificuldade de ficar ao lado do PT”, completa.