Pessoal da esquerda não quer ganhar eleição, quer lacrar, diz Márcio França

Após pregar voto útil da esquerda no primeiro turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, o candidato do PSB, Márcio França, afirmou nesta quinta, 29, que a esquerda não quer ganhar eleição, "quer lacrar". Ele foi o oitavo de 11 postulantes ao cargo que participam da série de sabatinas do <b>Estadão</b>.

"O pessoal de esquerda não quer ganhar eleição, quer lacrar", afirmou o candidato, citando Guilherme Boulos (PSOL), que tem aparecido em 3º lugar nas pesquisas, à frente de França e atrás de Bruno Covas (PSDB) e Celso Russomanno (Republicanos). "Boulos é candidato a presidente da República. Caso não dê certo em São Paulo e o (Fernando) Haddad (PT) estiver fraco ou desaparecido, ele vira o candidato líder da esquerda."

O ex-governador atirou para todos lados durante a sabatina. Criticou o candidato do PSOL, afirmou que o PT é injusto com Jilmar Tatto e que Russomanno e Covas são candidatos com "sombras" maiores por trás, em referência ao presidente Jair Bolsonaro, apoiador do candidato do Republicanos e ao governador João Doria, aliado do prefeito.

"Desde o início, eu sempre disse que eu iria para o segundo turno com o Bruno. A outra vaga, não se sabia se teria um outro candidato à direita. Russomanno é famoso, mas tradicionalmente, ele cai no final. No restante, o PT e o Boulos. O PT tem um rapaz que a vida inteira serviu ao PT, mas que o partido acha que ele não é a pessoa certa. É injusto. Boulos nunca foi nada na política. Se jogá-lo nessa fria (governar São Paulo), ele vai meter gasolina e fogo no paiol."

<b>Primeiro turno</b>

França prevê que Boulos e Tatto somem cerca de 20% dos votos no primeiro turno e disse acreditar que terá também perto desta porcentagem dos votos válidos. "O PT e o Boulos não cabem em uma casinha só. Vão dividir 20 pontos. Acho que o PT tem condição, é maior, mais forte, acredito que faça esse crescimento. E as únicas pesquisas que fazem em relação ao segundo turno, o único candidato que vence do Bruno no segundo turno sou eu. Cada candidato aqui tem uma sombra para a Presidência. Se o Bruno ganhar, as pessoas querem que o Doria vá para a Presidência. Se Russomanno ganhar, querem que o presidente se reeleja. Se Boulos ou o candidato do PT, querem que (o ex-presidente) Lula volte a ser candidato."

<b>Pesquisas de intenção de voto</b>

O candidato foi questionado sobre seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto. Ele afirmou que teve 22% da votação em primeiro turno na capital em 2018, quando concorreu a governador. "Essa é a marca que eu vou atingir. Pesquisa, vocês sabem, fotografa o instante e o sentimento das pessoas em relação a nomes conhecidos. Se eu chegar no balcão de um bar e mostrar uma série de refrigerantes, Tubaína, Cajuína, a pessoa opta por Coca-Cola. (Celso) Russomanno é uma pessoa conhecida. O prefeito (Bruno Covas) é o atual prefeito, então tem de ter voto mesmo. No fundo, três ou quatro nomes disputam uma vaga e as outras, a segunda vaga."

<b>Aproximação com Bolsonaro</b>

França foi questionado sobre ter tido uma aproximação com Bolsonaro durante a pré-campanha. A ida de França a um ato com Bolsonaro irritou a cúpula do PDT, que já viabilizava uma aliança pela Prefeitura de São Paulo. Os partidos acabaram se coligando. "Eu tenho zero a ver com o Bolsonaro. Eu tenho alguns vínculos: ele é do Vale do Ribeira e eu também. A esposa dele trabalhou no gabinete com o meu suplente. Vim conhecê-lo agora quando eu fui tentar aquela ajuda para Beirute."

<b>Gestão</b>

O ex-governador disse que a Prefeitura terá de cortar despesas em 2021. Ele propõe governar com apenas 1% dos cargos comissionados. "No ano que vem, vamos passar por um problema bem grave. Vamos passar por uma redução de despesas. Tudo isso vai desaguar no começo do ano, com pandemia. Uma das alternativas, duras, que pensamos é em relação aos cargos de comissão. Estou me propondo a governar com 1% desses cargos, 70 apenas. Eu tenho experiência."

<b>Governo de Bruno Covas</b>

França afirmou ter respeito por Covas e relembrou a amizade com o ex-governador Mário Covas, avô de Bruno, mas criticou o prefeito por, em sua avaliação, deixar o comando da cidade para um grupo de vereadores. "Eu me dou muito bem com o Bruno, é uma pessoa valente. Mas eu acho que ele tá sem nenhuma condição. Hoje ele não é prefeito, é um grupo de vereadores. O Bruno sequer consegue mandar embora um subprefeito."

<b>Vacina da covid-19</b>

França criticou Doria ao ser perguntado se é a favor ou contra a obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19. "O Doria anunciou 134 vezes essa história da vacina. Agora começou a se discutir se vai ser obrigatório uma vacina que não existe. O Supremo vai ser consultado. Toda pessoa de bom senso tem a obrigação de tomar a vacina. É claro que o poder público não vai entrar de casa em casa para vacinar. 20 ou 30% já se contaminou. Meus filhos tiveram covid. Eles são obrigados a tomar? Já tiveram a contaminação do vírus. Só vou discutir a obrigatoriedade se tiver vacina."

<b>Volta às aulas</b>

O candidato do PSB afirmou que o planejamento de volta às aulas pós-pandemia começa por preparar as escolas. "Aí, reveza os alunos, coloca 20% da sala. As crianças podem ir para o shopping e não podem ir para a aula? Claro, eles bateram tanto a cabeça com essa história de covid que a pessoa se sente insegura. Tem que poder fazer o teste em todo mundo, colocar na porta das escolas a preparação para cada escola, como outros países fizeram."

<b>Fapesp</b>

França se irritou ao ser questionado sobre a retirada de R$ 140 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) quando era governador em 2018. Ele afirmou que não tirou dinheiro nenhum e que retiraria a candidatura se isso fosse mentira. O <b>Estadão Verifica</b> mostrou que sua gestão chegou a decretar a retirada para complementar o orçamento de outros órgãos estaduais, mas recuou. O Diário Oficial do Estado de trazia um decreto com abertura de crédito suplementar e de fato trazia a informação de que parte dos recursos teria fonte em "recursos desafetados da Fapesp", no valor de R$ 140 milhões. Dois dias depois, o governo revogou o decreto. No dia 31 de dezembro, o mesmo texto do decreto foi publicado novamente, desta vez a menção à fonte dos recursos da Fapesp foi retirada.

"Quando você faz uma movimentação de todas as contas do Estado, fica contingenciado. Depois, você devolve. Os recursos do Estado são divididos em 12 prestações. Eu não tirei nem devolvi, o dinheiro estava contingenciado. A proposta do Doria era de tirar dinheiro da Fapesp", afirmou França. Ao final da sabatina, o candidato pediu desculpas por ter se exaltado com o repórter que o questionou sobre os recursos.

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