Estadão

Petista perdeu favoritismo, amargou crise interna e voltou a ter esperança

O petista Fernando Haddad foi do céu ao inferno no dia 2 de outubro. Depois de protagonizar uma campanha na liderança isolada, segundo as pesquisas de intenção de voto, foi surpreendido pelo resultado das urnas que colocaram Tarcísio de Freitas (Republicanos) na dianteira, com vantagem de sete pontos. Apesar de reconquistar fôlego na reta final, o ex-prefeito de São Paulo chega hoje atrás do adversário e aposta que a ofensiva na região metropolitana e a imagem colada à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) compensem o apoio que o candidato bolsonarista tem no interior paulista.

Haddad é o candidato do PT a chegar mais perto da conquista do Palácio dos Bandeirantes, nunca ocupado por um petista. Se eleito, terá o desafio de enfrentar um Legislativo potencialmente hostil e um aparato estatal dominado pelo PSDB há quase três décadas. Além disso, terá de conviver com uma capital dominada por adversários, a quem tem criticado, e com a resistência dos eleitores do interior do Estado, que mantêm preferência por Jair Bolsonaro (PL).

O ex-prefeito enfrentou críticas internas. Integrantes da coordenação da campanha de Lula, por exemplo, reprovaram a estratégia de concentrar ataques em Rodrigo Garcia (PSDB) no primeiro turno. Segundo eles, a escolha ajudou o bolsonarismo a crescer em São Paulo e prejudicou o desempenho de Lula no Estado. Dias antes do segundo turno, Haddad já tinha sido chamado por integrantes da campanha nacional que observavam o crescimento de Tarcísio nos trackings do partido.

Apesar dos conselhos, Haddad manteve a estratégia, descasada da retórica de Lula, que ainda buscava alianças no PSDB por meio da figura do ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB). Ainda no inferno astral após o primeiro turno, viu Garcia, que teve 18% dos votos válidos, manifestar apoio a Tarcísio.

<b>ISOLADO.</b> Com Lula concentrado na própria campanha, Haddad também não teve a ajuda de Simone Tebet, em razão da aliança do MDB com Tarcísio. Alckmin foi seu principal cabo eleitoral, com o qual esteve em locais hostis ao petismo, no interior. A principal aposta, no entanto, foi a de concentrar agendas na periferia de São Paulo, no ABC paulista e na Grande São Paulo. Em boa parte do segundo turno, houve clima de desânimo na campanha. Ele viu o adversário se esquivar de debates e sabatinas, para tentar manter a liderança, e no PT havia quem desse a campanha ao governo paulista como caso perdido.

Haddad retomou o fôlego na reta final, beneficiado indiretamente por deslizes de Tarcísio a respeito da ocorrência policial em um evento de campanha em Paraisópolis que terminou com um homem morto pela PM. Durante o último debate, o petista arrancou de seu adversário a admissão de que um agente de sua campanha, de fato, havia pedido para um cinegrafista apagar imagens que fez no local. Aliados consideram que Haddad venceu a contenda e "jogou nas cordas" seu adversário, até no campo propositivo. Mesmo assim, as pesquisas ainda o colocam distante do ex-ministro bolsonarista.

<b>EM CASO DE VITÓRIA.</b> As dificuldades não vão acabar caso Haddad seja eleito. A federação petista cresceu e elegeu 19 deputados – A Assembleia tem 94 parlamentares. Somada a partidos como PSB, Rede, PSOL e PDT, esta base de aliados chega a 29 parlamentares. No entanto, as bancadas de PL, Progressistas, PSC, PSD, Novo, Republicanos, PSDB e Cidadania chegam a 48 parlamentares. Partidos de centro, como o MDB, o União Brasil, o Podemos e o Solidariedade, somam 17 deputados. Caso não atraia ao menos partidos de centro e mantenha uma relação, no mínimo, amistosa com a oposição, Haddad terá desafios de governabilidade.

A máquina do governo historicamente ocupada pelo PSDB tem 19 mil cargos de confiança. O petista tem prometido que não fará uma caça às bruxas e manterá quadros técnicos. Ele terá de lidar com servidores concursados, como professores e policiais. Ao longo da campanha, prometeu por diversas vezes a valorização destes profissionais.

No caso dos professores, trata-se de uma das categorias mais presentes na Alesp e que tem sido crítica ferrenha dos governos tucanos. Já parte da base bolsonarista tem as polícias como origem, e defende, por exemplo, a derrubada das câmeras em uniformes de agentes de segurança – um programa que Haddad promete manter e ampliar.

A Casa somente se apaziguou em gestões tucanas. Mesmo Márcio França (PSB), quando assumiu na condição de vice de Geraldo Alckmin, à época no PSDB, sofreu com duas CPIs relacionadas à área da saúde. O petista também terá de aparar as pontas em sua relação com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que se alinhou a Tarcísio na eleição estadual e foi duramente criticado pelo petista. O emedebista também é autor de severas críticas a Haddad em sua gestão na Prefeitura.

<b>MP E JUSTIÇA.</b> Sem experiência no Palácio dos Bandeirantes, o PT deverá aprender a lidar com o Poder Judiciário e com o Ministério Público. Em sua gestão como prefeito, a relação do petista foi conturbada, especialmente com promotores de primeira instância, que moveram ações contra políticas públicas como a instalação das ciclovias. Um deles abriu uma investigação sobre uma suposta "indústria da multa" em sua gestão, em razão da mudança de velocidade máxima em vias da capital.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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