No primeiro evento público após assumir a diretoria de Gás e Energia da Petrobras, Hugo Repsold, classificou a atual fase da estatal como “delicada” e de “grande complexidade”, referindo-se à crise que abateu a empresa desde 2014, com a deflagração da Operação Lava Jato, e que resultou na demissão coletiva dos ex-diretores e da presidente, Graça Foster. Segundo o executivo, a diretoria tem “tarefa árdua” para concluir o balanço contábil com “números claros e auditados”.
“Estamos vivendo um momento delicado, de grande complexidade. Estamos em período de silêncio com a tarefa árdua de concluir as contas, terminar as demonstrações contábeis e mostrar os números para que todos conheçam e entendam. Números que sejam claros e reconhecidos, auditados”, afirmou Repsold durante aula inaugural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O executivo não mencionou prazos para concluir o balanço. A Petrobras está desde novembro sem apresentar seu balanço financeiro, em função das investigações sobre o impacto financeiro do escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. A companhia deverá apresentar o relatório até maio, sob risco de ter parte das suas dívidas cobradas antecipadamente.
Repsold afirmou ainda que concluir a tarefa será fundamental para “seguir a vida”. “Prosseguir com o desenvolvimento da produção e com a comercialização de todos os produtos da Petrobras, que tem enorme valor e enorme importância para o desenvolvimento do País como um todo”.
O diretor afirmou também que a corrupção identificada na companhia é como um “câncer que não deve ser tratado com homeopatia”. Segundo ele, a companhia “falhou” nos últimos anos em relação às suas metas, e só passou a desenvolver mecanismos de governança depois de “tomar uma surra”. “Corrupção é como um câncer e a gente não vai tratar com homeopatia. Se é grave, tem que extirpar ele. Estou confiante. Não só porque sou otimista, mas porque nos últimos 30 anos vi a capacidade de superação ser construída”, afirmou, durante palestra.
Apesar da metáfora, o diretor avaliou que o problema “não é tão grave assim” para a estatal e seus funcionários que estão focados em um “projeto comum”.
A respeito dos dados contábeis de 2014, Repsold disse que o desafio é apresentar números fáceis “de entender e que os auditores concordem”, em relação às perdas financeiras e do valor dos ativos afetados pelo esquema de desvios e pagamento de propina nos contratos com empreiteiras e fornecedoras.
Preços
A respeito do impacto da mudança nos preços internacionais do petróleo sobre a companhia, Repsold disse que o momento delicado da companhia se agrava frente a essa situação. “Preços baixos representam o momento para ser muito seletivo”, afirmou, acrescentando que a empresa deve se adequar a essa realidade do mercado. “Não é delicado só por causa das denúncias. Junto com esse fato, estamos vivendo um momento delicado no mundo, em que o petróleo e seus produtos estão no meio de uma confusão”, comentou.
Segundo ele, a mudança nos preços internacionais é consequência das estratégias geopolíticas da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), classificadas como “muito fortes, agressivas e competitivas”. “Eles controlam um mercado e ninguém quer brigar com eles. O resultado é preço baixo no mercado, isso prejudica os Estados Unidos e a gente”, avaliou o diretor.