Em seu ocaso, fulminada e questionada em várias frentes, a Lava Jato ainda dá sinal de vida e deflagra nesta quinta-feira, 11, sua fase 80, batizada de Operação Pseudeia. É a primeira etapa desde que a força-tarefa foi enterrada como equipe isolada.
Os agentes cumprem cinco mandados de busca e apreensão em São Paulo, sendo três na capital e dois em Pindamonhangaba, no interior paulista. A Justiça ainda autorizou o bloqueio de bens e valores na ordem de R$ 5,2 milhões – valor correspondente aos prejuízos identificados até aqui. O <i>Estadão</i> apurou que o alvo da ação é o empresário Cláudio Mente.
A investigação é desdobramento da Operação Acarajé, 23ª etapa da Lava Jato ocorrida em 2016, que teve entre os alvos principais o publicitário João Santana. Na época, os procuradores acusaram pagamentos ilícitos no exterior para agentes públicos e marqueteiros políticos feitos pelo engenheiro polonês Zwi Skornicki, representante do Keppel Fels, estaleiro então contratado pela Petrobrás.
Na operação desta quinta, as investigações buscam identificar outros beneficiários das transferências, diz a PF. Um deles seria justamente Cláudio Mentes. De acordo com a investigação, o empresário teria firmado um contrato de consultoria ideologicamente falso com o representante do estaleiro, por meio de uma empresa offshore constituída em paraíso fiscal e de uma conta no exterior, para receber pagamentos na ordem de um milhão de dólares no ano de 2013.
Detalhes do suposto esquema acabaram sendo revelados pelo próprio Zwi Skornicki em acordo de colaboração premiada firmado com o Ministério Público Federal. De acordo com a Polícia Federal, o delator admitiu que os pagamentos foram feitos para cobrir pedidos de propinas vindos do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
Os relatos foram checados na reanálise de materiais apreendidos na Operação My Way, 9ª fase ostensiva da Lava Jato, que havia feito buscas contra o colaborador, e por informações enviadas por autoridades suíças. Segundo a Polícia Federal, os investigadores encontraram mensagens e dados de ligações telefônicas que comprovavam o relacionamento entre o empresário e o delator, os vínculos com Vaccari e tratativas para pagamentos de mais 600 mil dólares a Mente, no ano de 2014, além da conta no exterior do empresário.
"Diligências posteriores confirmaram que o investigado ainda possuía outra conta no exterior e que, nos anos de 2014 e 2015, mesmo após a Operação Lava Jato já ter sido deflagrada, efetuou diversas transferências bancárias no exterior para, através de operações de dólar-cabo, encerrar as contas e internar irregularmente os valores recebidos à margem da lei", informou a PF.
As buscas feitas na manhã de hoje buscam ainda esclarecer os motivos para outros depósitos nas contas de Cláudio Mentes e a razão para seu favorecimento a pedido do tesoureiro do PT, além de apurar a destinação dos valores internados irregularmente no Brasil com o uso de doleiros. Isso porque a suspeita é a de que o empresário tenha sido apenas um operador dos pagamentos.
A investigação recebeu o nome de Operação Pseudeia em referência ao espírito da mentira na mitologia grega, em alusão ao sobrenome do empresário, Cláudio Mente, e ao possível emprego de expedientes falsos para justificar os recebimentos de valores no exterior, explica a Polícia Federal.
O empresário pode responder por lavagem de dinheiro, corrupção e crimes contra o sistema financeiro nacional.