A alta de 18,4% na população desocupada no trimestre até maio ante igual período de 2014 é a maior da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Há uma intensificação do processo de aumento da desocupação”, notou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do órgão.
“É um sinal de dificuldade do mercado de trabalho”, acrescentou Azeredo. Segundo ele, as pessoas estão procurando trabalho, mas não estão conseguindo. Embora ainda haja geração de vagas na comparação interanual, o resultado do trimestre até maio (+297 mil vagas ante igual período de 2014) foi o menor da série da pesquisa.
“A renda também vinha tendo movimento de alta, e agora apresenta perdas”, disse o coordenador.
Segundo ele, a estabilidade do mercado de trabalho brasileiro está se desfazendo, sendo o principal sinal a queda no emprego com carteira assinada. Em um ano até o trimestre encerrado em maio de 2015, 708 mil pessoas deixaram de ser trabalhadores formais no setor privado.
“A pesquisa mostra não só perda da carteira de trabalho. É queda no emprego. E sabemos que perder carteira de trabalho é perder estabilidade”, disse Azeredo. “Mais pessoas buscam trabalho diante da estabilidade que está se desfazendo”, acrescentou.
Conforme o coordenador do IBGE, o cenário é semelhante àquele visto entre 2003 e 2004. “Em momentos em que você vê essa taxa de desocupação maior, rendimento desacelerando, a tendência é as pessoas buscarem o mercado de trabalho, até para poderem voltar a atingir uma estabilidade. Estudantes, donas de casa que antes estavam força da força voltam”, disse.
No trimestre até maio deste ano, o número de desocupados atingiu 8,157 milhões, o maior contingente já observado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Enquanto isso, o crescimento da população inativa foi de 1,4% sobre igual período de 2014, um dos menores já registrados. Na comparação com os três meses até fevereiro, já houve inclusive uma queda de 0,5% no número de pessoas fora da força de trabalho.
“Os trabalhadores formais ainda contam com uma rede de proteção, com FGTS, seguro-desemprego. Mas essa rede de proteção tem um tempo de duração, então a perda de estabilidade do trabalhador acaba afetando”, explicou Azeredo.
Conta própria
A desaceleração no mercado do trabalho tem levado alguns brasileiros a buscar outras saídas que não seja sair por aí distribuindo currículos. Com isso, o número de trabalhadores por conta própria e também de empregadores tem aumentado de forma significativa no último ano, segundo dados da Pnad Contínua divulgados nesta quinta (9) pelo IBGE.
O número de desempregados atingiu um recorde de 8,157 milhões no trimestre encerrado em maio de 2015. Mas o número poderia ser maior caso esses brasileiros não tivessem um “plano B”.
Na comparação com o trimestre até maio de 2014, o emprego por conta própria aumentou 4,4%. Isso significa 934 mil pessoas a mais nessa condição, que inclui desde um profissional autônomo com perfil mais técnico até o vendedor ambulante. Os empregadores, por sua vez, cresceram 8,1% no período, um acréscimo de 299 mil pessoas.
“A pesquisa mostra um cenário econômico que não está permitindo geração de vagas a ponto de suprir a demanda por emprego. Então, o desemprego está subindo”, explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. “Com a redução no emprego, aumentou o número de trabalhadores inseridos como empregador e conta própria.”
É muito provável, apontou Azeredo, que esse contingente venha de empregos anteriores no setor privado, com ou sem carteira. Em um ano, o emprego formal recuou 1,9%, uma perda de 708 mil vagas. Já o trabalho sem carteira recuou 3,0%, com 310 mil pessoas a menos.
“Nesse momento, ainda há uma rede de proteção para os empregados com carteira (FGTS, seguro-desemprego), mas os empregados sem carteira não têm essa rede de proteção. É daí que vem esse aumento forte de empregadores e de conta própria”, disse o coordenador. “Para compor renda domiciliar, mais pessoas acabam buscando emprego. Além disso, há uma menor qualidade do emprego, considerando a queda da carteira assinada.”