Opinião

PNAD revela um Brasil menos cor de rosa do que se pinta

A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD), realizada pelo IBGE e divulgada nesta semana, mostra um país em crescimento, com grandes e graves problemas ainda por resolver. Apesar da crise financeira que afetou o mundo inteiro, mais de um milhão de brasileiros deixaram a pobreza no ano passado. Percebe-se alguma melhora na distribuição da riqueza: seguindo tendência recente, o último ano mostrou que a renda dos 40% mais pobres cresceu 3,1%, enquanto a renda dos 10% mais ricos aumentou 1,09%.


 


Porém, alguns outros indicadores de desenvolvimento social, como o analfabetismo, apresentam melhora tímida, mas a comparação com as versões anteriores do estudo revela que há um processo contínuo de bons resultados. Tais indicadores, que caracterizam historicamente um país subdesenvolvido, parecem evoluir em ritmo muito lento, principalmente quando colocados ao lado dos dados econômicos, como o consumo de bens duráveis.


Embora os jornais – inclusive da grande imprensa – passem ao largo dessa questão, é preciso levar em conta que em 2009 o mundo enfrentou os primeiros efeitos da maior crise financeira dos tempos modernos. Sem observar esse contexto, a análise da imprensa fica perneta. Olhado em seu conjunto, o PNAD mostra um país em franco crescimento, com mais mobilidade social, mas ainda atrapalhado por carências profundas. Essas carências deveriam compor a agenda proposta pela imprensa aos candidatos a governar o Brasil.


 


Um em cada cinco brasileiros (20,3%) é analfabeto funcional, a pessoa com 15 ou mais anos de idade e com menos de quatro anos de estudo completo. Em geral, ele lê e escreve frases simples, mas não consegue, por exemplo, interpretar textos. Segundo a pesquisa, o problema é maior na região Nordeste, na qual a taxa de analfabetismo funcional chega a 30,8%. Na região Sudeste, onde esse índice é menor, a taxa ainda supera os 15%.


 


Também se pode notar um viés político bastante interessante. O  acesso aos serviços de telefonia aumentou 337% desde 1992, enquanto, no mesmo período, o número de casas com acesso a serviço de esgoto cresceu apenas 30%. A privatização fez avançar de maneira impressionante a telefonia, enquanto o saneamento básico, nas mãos do Estado, pouco evoluiu. Para o leitor atento, a comparação pode parecer um pouco forçada, dadas as discrepâncias entre os dois serviços. No entanto, mostra que a iniciativa privada demonstra maior eficiência que o poder público.


 


Guarulhos, por exemplo, só agora está prestes a tratar seu primeiro metro cúbico de esgoto. E somente porque a Prefeitura está obrigada a isso por força de um termo de ajuste firmado com o Ministério Público. Ou seja, à força. Caso contrário, a cidade ainda estaria no zero.

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