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Polícia afirma que médico pode ser testa de ferro de Márcio França

Pivô da investigação sobre um esquema de corrupção envolvendo contratos firmados entre prefeituras paulistas e organizações sociais (OSs) da área da saúde, o médico Cleudson Garcia Montali pode ter atuado como "testa de ferro" do ex-governador Márcio França, segundo a Polícia Civil de São Paulo. França, pré-candidato do PSB ao governo do Estado, foi alvo de buscas durante operação realizada na quarta-feira, 5.

Montali é apontado pela polícia como o responsável por estruturar "a organização criminosa especializada no desvio de verbas públicas destinadas à saúde". "(Montali) apareceu nas investigações como homem sem rosto , gerindo e articulando setores importantíssimos dentro da organização criminosa para coordenar, cooptar e arregimentar essas ações delitivas, figurando no topo da cadeia de comando e liderança da organização criminosa, agindo como homem de trás para orquestrar e/ou intermediar esses atos com outras células criminosas", afirmam os delegados Luiz Ricardo de Lara Dias Júnior e Francisco Antonio Wenceslau, responsáveis pela investigação, em documento encaminhado à Justiça e obtido pelo Estadão.

Em agosto do ano passado, Montali foi condenado a 104 anos de reclusão por desvios de R$ 500 milhões em verbas da área da saúde de cidades do interior paulista. No mês passado, uma primeira sentença sobre o caso emitida pelo juízo de Birigui impôs ao médico mais 96 anos de prisão.

O inquérito diz que França e Montali mantinham "forte vínculo, notadamente no período em que ele (França) foi governador, ocasião em que a Organização Social Irmandade da Santa Casa de Pacaembu celebrou vários contratos com o Estado de São Paulo, gizando que referida organização social gerenciou os três equipamentos públicos situados na cidade de Santos".

Um despacho assinado por França na época em que assumiu o Palácio dos Bandeirantes chamou atenção dos investigadores. Em dezembro de 2018, o então governador reconduziu Montali ao cargo de diretor do Departamento Regional de Saúde de Araçatuba (SP). O médico havia sido demitido sob suspeita de improbidade administrativa. Segundo os investigadores, o ato de França "se deu no apagar das luzes de seu mandado (dia 20 de dezembro de 2018), mesmo contrariando manifestação do Ministério Público pela não recontratação".

<b>DOAÇÕES</b>

Em uma outra frente de apuração, a Polícia Civil de São Paulo mira doações financeiras recebidas por França nas campanhas a governador de São Paulo, em 2018, e a prefeito da capital, em 2020. Um dos investigados relatou, em depoimento, que, em 2018, depositou para o pessebista R$ 5 mil a mando do médico.

No pedido enviado à Justiça, em dezembro, para realizar as buscas contra França, os delegados transcreveram diálogos interceptados durante as investigações que citam o ex-governador de São Paulo.

Em um deles, em agosto de 2020, um funcionário contratado pela organização social responsável pela gestão do Hospital Geral de Carapicuíba, na região metropolitana paulista, diz ter ouvido de um colega a frase: "Se o Márcio França ganhar, nós vamos ter a saúde de São Paulo na nossa mão". Para a polícia, há "indícios veementes" do envolvimento do ex-governador no esquema na saúde do Estado.

<b> LEVIANO </b>

Em nota, França negou qualquer "relação comercial" com Montali. "Um delegado de polícia, exercendo função de confiança do governo, falar que alguém pode ser testa de ferro de outro, sem nenhuma prova e sem nunca me ouvir, chega a ser leviano até para incautos", afirmou.

Na quarta-feira, o pré-candidato do PSB, peça central na articulação de uma possível chapa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido), já havia dito que a ação contra ele foi uma "operação política". As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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