Com medo de perder cargos na máquina federal, a bancada de deputados baianos do DEM declarou apoio a Arthur Lira (Progressistas-AL) na disputa à presidência da Câmara. O grupo dissidente é comandado pelo presidente nacional do partido e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto. Oficialmente, o DEM integra o bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na eleição na Casa. Há movimentos semelhantes no PSDB a favor do líder do Centrão e candidato do presidente Jair Bolsonaro.
Herdeiro do carlismo, oligarquia comandada na Bahia pelo avô e então senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007), o atual presidente do DEM procurou se projetar, nos últimos anos, como um nome da renovação política. A legenda, em seu conjunto, chegou a se afastar do bloco do Centrão e fugir das marcas do clientelismo e do fisiologismo, especialmente da troca de apoio ao Palácio do Planalto por cargos e emendas.
Ao mesmo tempo, o movimento de ACM Neto a favor de Lira estremeceu a relação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que apoia a candidatura de Baleia. Num encontro ontem no Palácio da Cidade, sede da prefeitura do Rio, Maia relatou que ouviu de um empresário que a legenda corre o risco de ganhar o apelido de "partido da boquinha".
A uma pergunta do Estadão sobre a análise do empresário, Maia disse discordar do comentário. "Eu não concordo. Conheço a bancada do DEM, sei que alguns têm amizade com Arthur, eu entendo, mas conheço a postura dos deputados e do presidente do partido", afirmou. "A gente não pode deixar que a disputa gere desgaste para o partido que saiu mais forte das eleições municipais." Maia atribuiu a dissidência a uma tentativa da candidatura governista de criar "conflito". Nos cálculos dele, Baleia deve ficar com 22 dos 32 votos do DEM. Ontem, o emedebista visitou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), que reafirmou o apoio de seu partido à candidatura de Baleia.
A disputa da Câmara é um teste de fogo no novo "carlismo". Os democratas baianos e tucanos têm apadrinhados na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), órgãos federais de orçamentos robustos.
No domingo, os cinco deputados da bancada da Bahia, a maior do partido, controlada por ACM Neto, porém, saíram numa foto com Lira. ACM se limitou a soltar uma nota na tarde de ontem para dizer que o encontro de Lira com os deputados baianos foi uma "cortesia" e declarou apoio "institucional" a Baleia. Procurado, o ex-prefeito não respondeu. Além do quinteto baiano no DEM, partidários de Lira na sigla fazem circular nos bastidores uma lista de apoio que inclui outros nove deputados.
<b>Almoço</b>
Dona de cargos cobiçados no governo e majoritariamente governista, a bancada do DEM na Bahia almoçou e posou para fotos com Lira, durante encontro em Salvador. Aparecem abraçados ao líder do Centrão os deputados Arthur Maia, Elmar Nascimento, Paulo Azi, Leur Lomanto Jr. e Igor Kannário. Azi é presidente regional da sigla e aliado de ACM Neto.
A dissidência no DEM era iminente. Ex-líder da bancada e ligado a ACM Neto, Elmar Nascimento desejava disputar a sucessão de Maia, mas foi preterido e surgiu como um dos próceres do movimento divergente.
Elmar é o padrinho político de Marcelo Andrade Moreira Pinto, presidente da Codevasf. "Não tem nada a ver (o apoio com a manutenção dos cargos). A responsabilidade lá (na Codevasf) é só minha. Eu já estou apoiando o Arthur há tempo."
No PSDB, a dissidência também passa pela manutenção de cargos. Um dos presentes ao almoço pró-Lira foi Adolfo Viana (BA), padrinho de Lucas Lobão, presidente na Bahia do Dnocs. O chefe da Sudene, Evaldo Cavalcanti da Cruz Neto, é cunhado do deputado Pedro Cunha Lima (PSBD-PB), filho do ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB). Pedro defende a vitória de Lira e tem dito que não seria interessante ao País que a oposição controlasse a Câmara. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>