Primeiro-ministro mais longevo da história do Japão, Shinzo Abe deixou oficialmente o cargo nesta quarta-feira, 16, após quase oito anos. Abe, que já havia anunciado sua renúncia por motivos de saúde, se desligou do posto após o Parlamento indicar Yoshihide Suga, de 71 anos, até então secretário-geral do governo, como seu sucessor. Suga havia se credenciado ao cargo na segunda-feira, 14, ao vencer a eleição interna do Partido Liberal Democrata (PLD).
Na eleição parlamentar de ontem, o novo líder do PLD recebeu 314 votos, de um total de 462, provando mais uma vez a força da coalizão de seu partido com o Komeito, que tem maioria ampla na Câmara dos Deputados. Pouco depois, a Câmara dos Conselheiros também aprovou o nome de Suga.
Abe havia anunciado sua saída no fim de agosto. O agora ex-primeiro-ministro sofre de colite ulcerosa, motivo apontado por ele como razão de seu afastamento. "Dediquei meu corpo e minha alma à recuperação econômica e à diplomacia para proteger o interesse nacional do Japão todos os dias, desde que retornamos ao poder", disse Abe, antes de seguir para sua última reunião de gabinete.
"Durante esse tempo, fui capaz de enfrentar vários desafios junto com as pessoas e estou orgulhoso de mim mesmo." O ex-premiê disse que sua saúde está melhorando graças ao tratamento e garantiu que ele, como deputado, apoiará Suga. Abe também agradeceu ao povo pelo forte apoio.
<b>Carreira</b>
Filho de um agricultor, com uma trajetória política atípica, Suga conhece bem cada aspecto da burocracia japonesa. Assessor fiel de Abe durante anos, o novo premiê coordenou a política entre os ministérios e as várias agências do Estado. Antes de conseguir oficialmente o cargo mais importante do governo ele era tido como a "sombra" de Abe. A falta de status internacional, em comparação com o ex-premiê, no entanto, será um desafio.
A imagem discreta de Suga contrasta com seu trabalho nos bastidores na gestão de burocratas e na promoção de políticas. Entre pessoas próximas, o novo primeiro-ministro é conhecido por sua teimosia e por conduzir as iniciativas do governo com mão de ferro. Aliados dizem, de forma reservada, que quem discorda dele acaba sendo afastado dos projetos.
Como filho mais velho, Suga desafiou a tradição agrícola ao partir para Tóquio e não assumir a fazenda de morangos da família em Akita. Ele trabalhou em uma fábrica de papelão antes de entrar na universidade, pagando suas mensalidades enquanto trabalhava em empregos de meio período, incluindo um no mercado de peixes de Tsukiji. Seus colegas se lembram de Suga como uma pessoa quieta, mas determinada. "Depois que ele toma uma decisão, ele nunca oscila e ainda é o mesmo", disse Masashi Yuri, um amigo da juventude, ao jornal <i>Mainichi</i>.
Suga se comprometeu a seguir a política do antecessor. Desta maneira, ele assegurou uma certa estabilidade aos caciques do PLD, que deram forte apoio a seu nome na eleição interna do partido, na última segunda-feira.
<b>Desafios</b>
O novo primeiro-ministro é considerado um líder mais pragmático do que dogmático. Analistas acreditam que ele dará continuidade à política econômica de Shinzo Abe, caracterizada por uma política monetária muito flexível e estímulos fiscais em larga escala. Ele também é conhecido por apoiar o que seria uma mudança histórica na política de imigração do Japão para permitir que mais trabalhadores estrangeiros entrem no país.
Entre os temas que o futuro governo terá de administrar estão a crise do coronavírus, a recessão econômica, a delicada questão da realização ou não dos Jogos Olímpicos de Tóquio – que foram adiados para 2021 – e a repercussão das tensões internacionais, sobretudo entre Washington e Pequim.
Alguns nomes importantes do PLD se mostraram favoráveis à convocação de eleições legislativas antecipadas, com o objetivo de consolidar a legitimidade de Suga e prolongar a duração de seu mandato além do prazo previsto para Abe. Até o momento, porém, Suga considera que as eleições não são uma prioridade, alegando que a pandemia de coronavírus ainda não está controlada. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>