Estadão

Powell diz que Fed avaliou eventual pausa no aperto monetário em reunião

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) chegou a avaliar a possibilidade de pausar o processo de aperto monetário em curso por conta da turbulência bancária nas últimas semanas. No entanto, os dados da inflação e do mercado de trabalho nos Estados Unidos vieram mais fortes do que o esperado antes mesmo dos eventos recentes, afirmou.

Segundo Powell, o FOMC também avaliou que os eventos das duas últimas semanas provavelmente resultarão em algum aperto nas condições de crédito para famílias e empresas e, portanto, pesarão na demanda, no mercado de trabalho e na inflação.

"Então, tal aperto nas condições financeiras funcionaria na mesma direção que um aumento nas taxas, ou talvez mais do que isso, é claro, não é possível fazer essa avaliação hoje com qualquer precisão", explicou o dirigente. "Portanto, nossa decisão foi seguir em frente com uma alta de 25 pontos-base e mudar nossa orientação de altas contínuas para algumas altas adicionais", acrescentou o presidente do Fed.

<b>Decisão a cada reunião</b>

O presidente do Federal Reserve disse que as decisões de política monetária nos Estados Unidos serão tomadas a cada reunião, considerando os dados e o quadro econômico, que foi impactado por uma turbulência bancária nas últimas semanas. Em cerca de dias, três bancos fecharam as portas no país.

"Monitoraremos de perto os dados recebidos e avaliaremos cuidadosamente os efeitos reais e esperados de condições de crédito mais rígidas sobre a atividade econômica, o mercado de trabalho e a inflação", afirmou Powell.

O presidente do Fed disse que a autoridade monetária fará de tudo para alcançar a estabilidade de preços, reforçando que os dados de inflação e emprego vieram mais fortes que previsto nas últimas reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto. "Estamos empenhados em restaurar a estabilidade de preços e todas as evidências dizem que o público tem confiança de que faremos isso para reduzir a inflação para 2% ao longo do tempo", disse Powell. "É importante mantermos essa confiança com nossas ações, bem como com nossas palavras", acrescentou.

Segundo Powell, os eventos das duas últimas semanas, com o fechamento de três bancos no país, provavelmente resultarão em algum aperto nas condições de crédito para famílias e empresas e, portanto, pesarão na demanda, no mercado de trabalho e na inflação.

<b>Cenário sem cortes</b>

O presidente do Federal Reserve reforçou que os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto não trabalham com a expectativa de corte de juros neste ano.

Segundo ele, o cenário projetado é de um crescimento "relativamente lento", reequilíbrio gradual da oferta e demanda e mercado de trabalho com a inflação caindo gradualmente. "E no caso mais provável, se isso acontecer, os participantes não veem cortes nas taxas neste ano", acrescentou.

Powell disse o caminho da economia é "incerto" e a política vai refletir o que realmente acontece, mas que o corte de juros não é a expectativa no cenário-base atual do FOMC.

De acordo com o presidente do BC dos EUA, a taxa final dos juros no ciclo de aperto dependerá de nível do aperto no crédito como reflexo da atual turbulência bancária. "Estamos analisando o que está acontecendo entre os bancos e perguntando se haverá algum aperto nas condições de crédito e, em seguida, estamos pensando nisso como efetivamente fazer a mesma coisa que os aumentos de taxas fazem, de uma forma que é substituta para aumentos de juros", reforçou.

O foco é a adoção de políticas que precisam ser rígidas o suficiente para reduzir a inflação para 2% ao ano, disse Powell. "Obviamente, no final das contas, faremos o suficiente para reduzir a inflação para 2%. Ninguém deveria ter dúvidas disso", alertou.

<b>Inflação acima da meta de longo prazo</b>

O presidente do Federal Reserve enfatizou que a inflação nos Estados Unidos ainda está muito acima da sua meta de longo prazo, de 2% ao ano. "A inflação moderou um pouco desde meados do ano passado, mas a força dessas leituras recentes indica que as pressões inflacionárias continuam altas", disse Powell, citando o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de fevereiro e o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), sua medida preferida de inflação, de janeiro.

Apesar da inflação elevada, Powell afirmou que as expectativas de inflação de longo prazo "parecem permanecer bem ancoradas".

"Estamos muito atentos aos riscos que a alta inflação representa para ambos os lados do nosso mandato, e estamos fortemente empenhados em retornar a inflação ao nosso objetivo de 2%", disse o presidente do Fed.

<b>Efeitos do setor bancário para o crédito</b>

O presidente do Federal Reserve afirmou que a turbulência bancária nos Estados Unidos deve impactar as condições de crédito no país. Por sua vez, o desempenho da maior economia do mundo poderia também ser afetado, mas é cedo para mensurar um possível dano.

"Os acontecimentos no sistema bancário nas últimas duas semanas provavelmente resultarão em condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas, o que, por sua vez, afetaria os resultados econômicos", disse Powell. "É muito cedo para determinar a extensão desses efeitos e, portanto, muito cedo para dizer como a política monetária deve responder", acrescentou.

<b>Elevações telegrafadas</b>

O presidente do Federal Reserve afirmou que as elevações de juros nos EUA foram bem telegrafadas ao mercado, ao comentar sobre a recente turbulência bancária no país. Segundo ele, o regulador avalia potencial risco de contágio a outros bancos. "Sabemos que temos outras ferramentas em vigor, mas agora pensamos que nossa ferramenta de política monetária funciona e pensamos que os aumentos de taxas foram bem telegrafados ao mercado e muitos bancos conseguiram lidar", comentou.

Questionado sobre ameaças sistêmicas por conta da quebra de bancos nos EUA, Powell disse que o foco foi evitar o risco de contágio para outros bancos de forma mais ampla.

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