Cidades

Precisamos salvar a cidade

Se graças ao pomposo orçamento anual Guarulhos continua ostentando o posto de segunda maior cidade do estado mais importante do País, por que tem apresentado seguidos sinais de falência? A todo instante funcionários públicos e fornecedores da Prefeitura reclamam de atrasos nos pagamentos e, em muitos casos, de calotes. Em abril, o prefeito Sebastião Almeida escancarou a crise financeira ao determinar o corte de 10% do orçamento das secretarias. Via Diário Oficial, mandou rever contratos de licitação e reavaliar os espaços usados por órgãos públicos, o uso de combustível, energia e até mesmo de água.
 
Sobre a água, vale aqui uma lembrança: a atual administração nunca escondeu que não paga o valor correto para a Sabesp pela água comprada para o município (87% da água de Guarulhos vem da companhia estadual). O calote tem ameaçado, inclusive, a continuidade da existência do Saae. Em março, Almeida admitiu à imprensa que repassar o tratamento de esgoto à estatal seria uma opção pelo perdão da dívida.
 
É difícil entender como a atual gestão deixou a situação chegar aonde chegou. Guarulhos continua arrecadando muito, mas a contrapartida não aparece. A cidade está largada. Há sujeira para todo lado. Falta iluminação, segurança e a saúde está em estado de emergência (decretado pela própria Prefeitura).
 
Sou cidadão. Moro e trabalho em Guarulhos desde 1987. Recolho meus impostos aqui. Em última análise, ajudo a bancar esse governo que tem demonstrado pouca perícia no uso desses recursos. Além disso, presido uma entidade que representa a classe empresarial dessa cidade. Gente que gera empregos e movimenta a economia. Temos o direito de saber o que a Prefeitura faz com o dinheiro que é público.
 
A posição da ACE-Guarulhos não é política. É cidadã! Queremos transparência. Não importa quem está na ‘cadeira’. Sempre vamos querer saber como seu ocupante a utiliza. Nós aplaudimos quando a Prefeitura acerta. Na última semana, por exemplo, publicamos matéria elogiando o processo participativo de revisão do Plano Diretor. Mas temos o direito e o dever de criticar o que vemos de errado.
Em Brasília, o governo Dilma tem implementado uma série de iniciativas de combate à crise econômica. Mas nenhuma corta ‘na própria carne’. Os erros do governo são pagos pelo povo, com mais impostos e menos direitos. Reduzir ministérios? Não. Isso não!
A história se repete em Guarulhos: Almeida reduz o número de secretarias ou de cargos comissionados? Não! A máquina administrativa está repleta de apadrinhados ou apoiadores de campanha. Isso trava a Prefeitura e gera custos, contribuindo para a quebradeira geral.
A ACE, a princípio, fará ofícios cobrando informações para entender o motivo da falta de dinheiro. Se for necessário, iremos organizar protestos. A cidade está ‘desgovernada’. A gente ouve dizer que existe um grupo de pessoas na administração que define a ordem de prioridade dos pagamentos. Quem é quem nesse grupo? Quais são os ‘carrascos’ que definem os sortudos e os azarados?
Estamos cansados de histórias mal contadas. A mais recente foi a do show da cantora Paula Fernandes no feriado de 1º de Maio.
 
Chamou a atenção o custo de R$ 148 mil pela apresentação em um período de ‘vacas magras’. Alguém procurou a produção da artista e descobriu-se que ela não cobrou cachê. Só depois disso é que a Prefeitura disse que não houve o pagamento. E se ninguém fosse atrás da cantora? Em quantos shows aconteceu isso? Tenho certeza que se for feita uma auditoria vão achar muitos ‘R$ 148 mil’ perdidos por aí. Isso tudo sem contar o gordo contrato de quase R$ 10 milhões para um consórcio implantar sistema para espantar pombos.
 
A função de fiscalizar, enfim, é de todos nós contribuintes. Quem deveria fazê-lo por obrigação (a Câmara Municipal) não o faz, infelizmente. Nosso Legislativo, guardadas as raríssimas exceções, é conivente. A maioria dos vereadores acompanha a péssima gestão da cidade. É a base aliada da troca de cargos. O vereador não vai contra o governo com medo de perder suas indicações para cargos no Executivo.
 
A ACE-Guarulhos não vai se calar. Queremos saber como está sendo gasto o nosso dinheiro: o meu, do associado e de todo cidadão guarulhense. Juntos, precisamos salvar a nossa cidade.
 
Jorge Taiar
Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Guarulhos
 

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