Os projetos de expansão de capacidade de minério de ferro das siderúrgicas brasileiras poderão ser colocados na gaveta diante do baixo patamar do preço da matéria-prima, que alcançou a mínima em cinco anos. A commodity encerrou o dia a US$ 83,60 a tonelada no mercado à vista chinês. No acumulado do ano, o minério já perdeu quase 40% de seu valor, o que poderá frear projetos de grandes indústrias, como Gerdau, Usiminas e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que têm nos planos elevar a produção do insumo.
A Usiminas, por exemplo, finalizou seu projeto Friáveis, para aumentar a produção de 8 milhões para 12 milhões de toneladas de minério de ferro. A companhia pretende submeter ao seu conselho de administração no primeiro semestre de 2015, o projeto Compactos, que poderá aumentar a capacidade para 29 milhões de toneladas de minério de ferro/ano.
Já a Gerdau projeta uma capacidade de 18 milhões de toneladas em 2016 e de 24 milhões de toneladas em 2020, em comparação a 11,5 milhões de toneladas atuais. Até maio deste ano, a divisão de mineração já havia recebido investimentos de R$ 1 bilhão, segundo a empresa.
Tanto Gerdau quanto Usiminas anunciaram foco em mineração em um momento que se discutir a verticalização (integração da produção com o fornecimento de matéria-prima) era estratégia para manter competitividade, já que o minério estava com preços valorizados e não ser autossuficiente poderia significar ficar atrás dos concorrentes.
Com o valor do minério de ferro próximo de US$ 90 a tonelada, ou até menos, a percepção do banco BTG Pactual é de que a expansão de projetos de Usiminas e Gerdau dificilmente irá para frente. “Calculamos que esses projetos poderiam gerar uma taxa interna de retorno bem abaixo de 10% ( em dólar)”, dizem Leonardo Correa e Caio Ribeiro, em relatório. Os analistas dizem que o adiamento ou cancelamento da expansão dos projetos da Usiminas seriam bem recebidos.
Recuo
Segundo um analista financeiro, que pediu para não ser identificado, o movimento natural é que as siderúrgicas recuem, ao menos por enquanto, em sua intenção de aumentar a produção e que qualquer sinalização contrária não seria bem recebida. O analista lembrou, ainda, que a Gerdau já reduziu seus investimentos previstos para este ano e que a Usiminas já vem adiando sua decisão em relação ao seu aumento da capacidade de minério. Em julho, a Gerdau anunciou a diminuição de seu programa de investimentos para este ano de R$ 2,9 bilhões para R$ 2,4 bilhões.
A CSN, por sua vez, depois de não alcançar o aumento de produção que vinha sendo prometido, passou a expandir seus volumes neste ano, exatamente no momento em que o preço do minério de ferro passou a cair. A projeção da empresa é de que a capacidade de produção da mina Casa de Pedra atinja 40 milhões de toneladas no próximo ano, em comparação aos 24 milhões de toneladas atuais.
“Estimamos o custo caixa da CSN (pela base CIF, custo seguro e frete) em aproximadamente US$ 55 a tonelada. Assim, a CSN poderia continuar operando com lucro com o minério de ferro em US$ 80 a tonelada, no entanto gerando fluxo livre de caixa (FCF, na sigla em inglês) negativo (R$ 1 bilhão) e a alavancagem continuaria a subir (acima de 3,5 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda)”, dizem os analistas do BTG, no documento.
Além de retirar a atratividade dos projetos, o preço corrente do minério de ferro poderá tornar pouco lucrativa a exportação do insumo pelas usinas. “As companhias gastam algo em torno de US$ 32 a tonelada para colocarem o minério em um navio no litoral brasileiro, mais US$ 24 a tonelada pelo frete marítimo. Nossa análise indica que Usiminas/Gerdau/CSN deverão gerar perdas exportando minério de ferro nos atuais preços”, diz relatório do Goldman Sachs, assinado pelos analistas Marcelo Aguiar, Humberto Meireles e Diogo Miura.
Já os analistas do BTG Pactual citam que a indicação é de que no atual preço do minério, as operações dessa divisão da Usiminas e Gerdau estão se aproximando de margens muito estreitas, com o Ebitda por tonelada beirando zero. “Com os preços atuais é praticamente inviável vender no mercado transoceânico com rentabilidade e as vendas ao mercado doméstico são mais competitivas. Assim, poderemos ter uma modesta redução das exportações”, afirmam.
Procuradas, a Usiminas disse que não teria porta-voz disponível para comentar o assunto, enquanto CSN e Gerdau não comentaram o assunto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.