O Programa De Braços Abertos, criado em 2014 pela Prefeitura para acolhimento e tratamento de frequentadores da Cracolândia, na região da Luz, centro da capital, vai sofrer mudanças. A ideia é que a segurança urbana de todo o bairro seja reforçada, com a criação de uma inspetoria de redução de danos e a ampliação da atuação da Guarda Civil Metropolitana (GCM): o patrulhamento vai passar das atuais 14 ruas para 60 vias, com 250 homens, durante 24 horas.
O inspetor-chefe da nova inspetoria de redução de danos da GCM, Elizeu Delfino de Oliveira, ganhará um posto na coordenação do De Braços Abertos, junto com os secretários de Segurança Urbana, Saúde, Assistência Social, Direitos Humanos e Trabalho. Está prevista a publicação de uma portaria na sexta-feira, delimitando o perímetro de atuação dessa unidade, que agora cuidará também das regiões da Praça Princesa Isabel e da Avenida Rio Branco.
De acordo com o secretário municipal da Segurança Urbana, Benedito Mariano, os guardas – que são voluntários – já passaram por formação em políticas de redução de danos e mediação de conflitos. Os homens entraram em ação em agosto.
Oficialmente, no entanto, a Prefeitura lança a inspetoria no dia 16, com a inauguração da base localizada na Alameda Dino Bueno, a quatro quadras do “fluxo”, como é chamada a região de concentração de usuários de crack. O efetivo terá ainda um ônibus próprio, além de carros e motocicletas. Com a nova unidade, a administração municipal promete que todo o bairro terá policiamento comunitário.
“A inspetoria qualifica a presença da GCM na região. A situação dos guardas-civis no entorno da Cracolândia era totalmente improvisada”, admite Mariano. Segundo ele, a Secretaria de Estado da Segurança Pública, que também atua na região, já foi informada sobre as mudanças de atuação da GCM na Cracolândia. “É evidente que (a Segurança) sabe. Eu disse sobre essa perspectiva de criação. Não vamos substituir o papel do Estado.”
Em nota, a Secretaria da Segurança nega que tenha sido informada das mudanças e diz que a PM “mantém seu efetivo com mais de 150 policiais, que contam com mais de dez viaturas, entre elas bases comunitárias, base móvel, viaturas de quatro rodas e motocicletas, que atuam 24 horas” na região.
Com a nova inspetoria, Mariano explica que serão resolvidos problemas de insatisfação de alguns guardas-civis, que se queixavam quando eram realocados de outras regiões da capital para a Cracolândia. “Alguns gostam; outros, não.”
Os 250 guardas-civis também vão poder atuar durante as folgas na região da Luz, em uma espécie de Operação Delegada da GCM. Fora do horário de trabalho, o guarda que quiser terá o direito de fazer uma Diária Especial de Atividade Complementar (DEAC), com remuneração de aproximadamente R$ 180.
Eleições. Para o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, a iniciativa causa estranhamento. “É uma proposta extemporânea, a um mês do primeiro turno das eleições. Por que agora? Por que só na Luz? E nas outras 29 cracolândias da cidade, quem vai fazer a redução de danos? Me parece que é mais um enfeite de vitrine”, disse.
O padre afirma que a população de rua tem problemas graves com os homens da Guarda Civil Metropolitana que, segundo Lancellotti, são considerados agressivos pelos moradores de rua. “A população da Cracolândia tem a visão de pessoas truculentas na guarda. As pessoas daquela região têm muitos conflitos com a GCM.”
Para Iézio Silva, presidente da Associação de Moradores e Comerciantes dos Campos Elísios, a criação da nova inspetoria também foi motivada pelo ano eleitoral. “Acredito que só fizeram agora porque é ano de eleição e todo prefeito quer mostrar que fez alguma coisa. Por isso esse interesse agora. Não fez em quatro anos e agora quer fazer no final do ano. É interesse eleitoral”, afirma. Mesmo assim, na opinião de Silva, o policiamento comunitário na Luz tende a melhorar a segurança nos bairros próximos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.