Eduardo Musa ficou conhecido por ser o gestor de imagem do atacante Neymar. Por muitos anos ele comandou a carreira do craque, até que romperam em 2015. Mas foi em um encontro com o skatista Bob Burnquist que a vida de Musa mudou completamente. Nas conversas, acabaram se empolgando em tocar o projeto da Confederação Brasileira de Skate, modalidade que se tornara olímpica. Ele arregaçou as mangas e tratou de organizar um esporte que era mais ligado ao estilo de vida do que à competição.
Agora, como presidente da CBSk, Musa quer aproveitar a projeção da modalidade no País para atrair mais patrocinadores e ajudar os atletas a terem melhores condições de praticar o esporte e ganhar a vida com ele. Nesta entrevista ao <b>Estadão</b>, ele conta sobre os projetos para o skate, que conquistou três pódios para o Brasil nos Jogos de Tóquio e já mira bons resultados para a Olimpíada de Paris, em 2024.
<b>Qual foi o impacto da Olimpíada para o skate?</b>
Sem dúvida nenhuma, o aumento de visibilidade foi gigantesco. Sempre trabalhei com essa hipótese de sair da bolha, e mesmo sendo um otimista nato, não esperava tanto quanto foi. Mas isso também mostra algumas fragilidades, pois o skate sempre teve um mundo próprio dentro dessa bolha e quando abriu, novas coisas aconteceram. Foi legal também os exemplos do skate que foram passados, como as atletas brasileiras que ganharam o prêmio de Fair Play, a juventude e o talento da Rayssa Leal e da Sky Brown, ou seja, a modalidade conseguiu mostrar a sua essência.
<b>E para a Confederação Brasileira de Skate?</b>
Na confederação, só vejo coisas boas, com novos patrocinadores e mais incentivos das famílias a andar de skate. No Natal, foi um presente super procurado, muitas lojas já não tinham mais skate para entregar. Claro que isso é um dado comercial ruim, mas mostrou como o skate cresceu.
<b>Em Tóquio, o Brasil obteve três pódios, mas não conquistou o ouro. Ficou aquela sensação de que faltou isso?</b>
Faltou o ouro, claro, principalmente olhando para os nomes que estavam lá que não subiram ao pódio, como Felipe Gustavo, Leticia Bufoni, Pâmela Rosa, as meninas do Park e o próprio Luizinho. Mas ter uma estreia no programa olímpico com três medalhas, não posso reclamar de nada. Nossa entrega foi excelente.
<b>Você chegou ao skate pelo lado de gestor. Tinha trajetória no futebol, foi braço direito do Neymar por muito tempo. O que você conseguiu trazer para a CBSk de experiência dessa sua outra vida?</b>
Dois pontos eu considero que aproveitei bem: primeiro trabalhar no futebol em alto nível te dá noção de tamanho de mercado, entender o que as marcas querem, isso ajuda muito. Outro ponto é que o skate nunca foi forte institucionalmente. Até a federação internacional está engatinhando. O esporte brasileiro é moldado através de associação, federação e confederação, então essa experiência me ajuda. A Lei Pelé foi toda calcada em clubes de futebol. O skate nem clube tem. Então, estamos construindo nossa plataforma em cima dessa base e passando por um momento de reestruturação no sentido das bases sólidas do skate institucional. E estamos ajudando as entidades filiadas, promovendo a compliance nas federações, até porque antes nem tinha faturamento.
<b>Foi difícil ser aceito pelos skatistas, por não ser alguém que cresceu nesse esporte?</b>
Houve uma resistência grande, como houve para entrar na Olimpíada. Abriu uma bolha, isso traz coisas boas e também ruins. Mas aos poucos muitos foram entendendo o trabalho e a maioria entende minha posição. O Bob diz que sou mais skatista do que muitos que andam. Não cheguei para ser skatista da seleção, dar palpites em questões culturais. Acho que venci essa barreira inicial com diálogo, exemplo e trabalho. Nos piores momentos, quando fui questionado, o Bob foi fundamental pela relação de confiança que a gente criou. Ele construiu a vida dele no skate e colocou a credibilidade dele na mesa a meu favor.
<b>Como está o projeto para os Jogos de Paris?</b>
Curiosamente, os meus dois ciclos foram curtos e ainda teve a pandemia. A confederação foi filiada em dezembro de 2017. Então, de novo vai ser um ciclo curtíssimo, só temos três eventos que contam pontos para a Olimpíada, e 2023 vai ser o ano da decisão. Teremos competição em 2024, mas 2023 será um termômetro.
<b>O Brasil já tem uma nova geração super forte, com adolescentes como o Gui Khury, o Filipe Mota, entre outros. A renovação é assim rápida mesmo?</b>
Ela é rápida, mas não me espanta. Tem uma questão da idade. O ciclo para 28 é que vai determinar a real faixa etária do esporte. E acho que ainda teremos diferença de idade mínima entre masculino e feminino por umas duas ou três Olimpíadas. Os dois atletas que você citou têm um potencial gigantesco, estão brigando para ir para Paris. Claro que em um nível de expectativa abaixo de quem está lá, mas não dá para descartá-los. Acredito que, dos 80 competidores que estiveram em Tóquio, só 50% vão estar lá em Paris.
<b>Você é uma espécie de "diretor" na World Skate. Como a entidade vê o Brasil?</b>
Não sou diretor, é o presidente que me apresenta assim (risos). Eles entendem que a gente hoje é o principal país institucional do skate. As potências da modalidade têm alto nível técnico, mas de organização e estrutura estamos à frente. Até por isso, garantimos os Mundiais de Park e Street para o Brasil. Nossa briga foi no sentido de trazer para cá e conseguimos dar a segurança com antecedência de que podíamos realizar os eventos no Rio. A gente assumiu essa condição. Além disso, nosso circuito nacional é o mais forte do mundo. E nossos atletas estão em condições melhores do que antes da Olimpíada, com estrutura para desenvolver suas carreiras.
<b>Como está a situação de patrocínios da confederação?</b>
O contrato com a Caixa termina em 30 de maio, mas esta semana teremos um ponto final na conversa para renovar. Está encaminhado. Ainda temos conversado com duas empresas para serem patrocinadoras de uniforme da confederação e no segundo semestre dois novos parceiros devem surgir, juntando com a questão do Mundial.
<b>É possível termos novidades no programa do skate para Paris-2024?</b>
Não, vai ser como foi em Tóquio. A única possibilidade que tem é o aumento de atletas, de 20 para 24, mantendo o máximo de três por país. Já para Los Angeles, em 2028, aí sim pode ter mudanças.