Dados obtidos pelo Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, via Lei de Acesso à Informação apontam que os 20 pronunciamentos da presidente Dilma Rousseff veiculados em rede nacional de rádio e televisão no primeiro mandato custaram aos cofres públicos R$ 1.441.773, o equivalente à construção de 24 unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida.
Neste domingo, 8, a presidente igualou em quatro anos e três meses de mandato o número total de pronunciamentos estrelados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em oito anos. Com o mote do Dia Internacional da Mulher, o novo pronunciamento foi o 21º de Dilma desde que assumiu a Presidência da República – e o primeiro da segunda gestão.
O custo do pronunciamento deste domingo ainda não havia sido fechado até a publicação deste texto.
Avessa a entrevista com jornalistas e tida como menos carismática e hábil na fala que seus antecessores, a petista tem preferido estabelecer um canal de comunicação direta com a população, em discursos feitos sob medida pelo marqueteiro João Santana.
“A presidente está torrando esse milhão para iludir a opinião pública. Os pronunciamentos tiveram uma consequência nefasta que é usar dinheiro público para fazer propaganda eleitoral enganosa”, critica o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN).
Na avaliação da professora Tânia Montoro, especialista em comunicação audiovisual da Universidade de Brasília (UnB), os pronunciamentos dão um peso maior à fala da presidente e são a forma mais eficiente de o discurso oficial ser transmitido à população.
“É a presidente colocando o bloco na rua. Na noite de domingo, a TV tem uma transversalidade de público, atingindo dona de casa, pai de família, mulher no hospital, presidiário. É o meio de maior impacto e familiaridade para chegar às pessoas”, comenta Tânia. “Não é o porta-voz ou algum ministro de Estado falando por ela. É a presidente reafirmando o discurso dela, é a sua voz, sem filtros.”
Palanque eletrônico
Em 2014, com as restrições impostas pela legislação eleitoral, Dilma usou o palanque eletrônico apenas três vezes. Por ocasião do Dia do Trabalho, anunciou um pacote de bondades – a correção da tabela do imposto de renda e um reajuste de 10% no benefício do Bolsa Família. Por conta dessa fala, o TSE decidiu multar a presidente em R$ 25 mil por considerar que houve propaganda eleitoral antecipada.
Dilma não fez em dezembro passado o tradicional pronunciamento de final de ano, orientada por assessores palacianos, que queriam valorizar as falas de 1º de janeiro, dia de sua posse.
Média
No primeiro mandato, Lula fez 11 pronunciamentos e no segundo, dez – uma média anual de 2,62. Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez seis no primeiro, e 16 no segundo – uma média anual de 2,75. Com Dilma, a média saltou para 5 nos primeiros quatro anos de governo.
Em dezembro de 2012, os pronunciamentos foram reajustados de R$ 57.856,50 para R$ 90.562,50 (56,5% de aumento), valor que engloba gastos com gravação, produção, edição e equipamentos.
Em 2013, ano em que viu sua popularidade desabar, Dilma fez o maior número de pronunciamentos do primeiro mandato – sete.
A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) destacou que um decreto de 1979 prevê que as emissoras de radiodifusão poderão ser convocadas para transferir pronunciamentos do presidente da República e dos presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal com objetivo de “divulgação de assuntos de relevante importância”. (Colaborou Murilo Rodrigues Alves)