Um projeto de lei proposto na última semana pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), solicita, de uma só vez, a extinção de dez empresas públicas. Caso os deputados aprovem a proposta, a Fundação para o Remédio Popular (Furp), que gera mais de 800 empregos em Guarulhos, poderá ser fechada.
Fundada em 1984, a Furp fornece remédios para a saúde pública que a iniciativa privada não cobre. Ou seja, medicamentos sem rentabilidade para os grandes laboratórios que são essenciais para a população. A proposta do governador, contudo, diz que a Furp “não produz qualquer produto exclusivo ou inovador, e a demanda por esses medicamentos pode ser suprida pelo mercado produtor privado”.
Para entendimento da importância da fundação, em fevereiro de 2019, Guarulhos obteve uma economia de R$ 4,2 milhões na compra de sete medicamentos básicos utilizados nos hospitais e unidades de pronto-atendimento: Cloridrato de Clomipramina, Dipirona Sódica 500mg, Metoclopramida 10mg, Cefalexina 500mg; Cefalexina 250 mg/ml, Metronidazol 250mg e Amoxilina 250 mg/ml. No caso da Dipirona Sódica, por exemplo, a Secretaria pagou R$ 0,07 por um comprimido unitário, enquanto o preço médio nas farmácias é de cerca de R$ 0,35. Os itens foram adquiridos diretamente da Furp.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) acusou o Estado de sucatear a fábrica com o objetivo de entregá-la à iniciativa privada. Há denúncias de falta de equipamentos simples, como caixas e bulas.
No fim do ano passado, a Furp enfrentou outra ameaça de encerramento do governo Doria, gerando grande repercussão e resultando em audiências públicas na Câmara Municipal para evitar o fechamento da unidade que, além dos empregos, tem 48 mil m² de área construída e fabrica quase 1 bilhão de unidades anualmente. Desde que Doria assumiu o governo, compras que demoravam 120 dias agora têm espera de seis meses.
O clima é tenso na fábrica de Guarulhos, que tem 880 funcionários concursados e cerca de 300 terceirizados. “Em um momento como esse, de pandemia, é praticamente um genocídio você demitir. Ele (Doria) não fala de como vai pagar os funcionários, só fala de economia e do PDI, (Programa de demissão incentivada). Dos 880 colaboradores da Furp, apenas 14 entram no hall de demissão voluntária. Ele não fala como vai pagar os demais, de todas as dez empresas do relatório”, afirma Alex Caetano, um dos representantes dos trabalhadores da Furp.
“Na realidade a fábrica de Guarulhos sempre foi referência na fabricação de medicamentos. A capacidade de produção e dos profissionais que a gente tem é invejada no mercado. A fábrica nunca teve problema”, completa o trabalhador.
A gestão de José Serra (PSDB) inaugurou, em 2009, a filial de Américo Brasiliense, responsável quase R$ 98 milhões dos R$ 99 milhões que a fundação deve e permanece 75% do tempo inativa. A CPI também concluiu que, desde que a nova unidade começou a operar, houve redução de 40% na produção dos medicamentos.