A produção de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus deve continuar caindo nos meses de setembro e outubro, previu nesta sexta-feira, 4, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan. Segundo ele, a queda será consequência das medidas de corte da produção para ajustar os níveis de estoques ao baixo volume de vendas.
“O ajuste pode se dar de duas formas: com a retomada do mercado, que, nesse cenário, não conseguimos enxergar nesse momento, ou via ajuste da produção”, comentou durante entrevista coletiva à imprensa para apresentar os dados do setor de agosto. No mês passado, a produção total caiu 3,5% ante julho e tombou 18,2% na comparação com agosto de 2014, fazendo com que, no ano, acumule recuo de 16,9% até agosto.
No oitavo mês de 2015, o estoque total de veículos nos pátios das concessionárias e das montadoras aumentou de 345,6 mil em julho para 357,8 mil unidades, segundo dados Anfavea. Com o crescimento, o estoque total de veículos no oitavo mês do ano era suficiente para 52 dias de vendas, período maior do que os 50 dias em julho.
Moan lembrou que, em todo o mundo, o setor considera ideal um estoque equivalente a 30 dias de venda, mas destacou que, no caso do Brasil, os níveis de estoque são naturalmente “bastante altos” em razão da competitividade. “Somos um mercado mais competitivo do mundo. Temos quase 2,8 mil marcas e versões oferecidas pelas montadoras e 63 marcas disputando mercado brasileiro”, explicou.
Esse ajuste da produção, lembrou Moan, se dará principalmente por meio do afastamento de funcionários das fábricas. De acordo com números da Anfavea, só em setembro, 27,4 mil funcionários estarão afastados por meio de lay-off (suspensão temporária dos contratos), férias coletivas ou individuais, e licença remuneradas, entre outros. O número representa pouco mais de 20% do total de empregados do setor até o fim de agosto (134,3 mil funcionários).
Joaquim Levy
Luiz Moan, saiu em defesa pública do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O executivo afirmou que o ministro tem demonstrado a “firmeza necessária” para a condução do ajuste fiscal e que, por isso, tem o apoio da indústria automotiva.
“É fundamental que a conclusão do ajuste macroeconômico e fiscal se dê o mais rápido possível. Sem ele, não sabemos qual a regra do jogo. (…) E o ministro Levy tem demonstrado a firmeza necessária”, afirmou. Em sua fala, o executivo também teceu elogios ao trabalho dos ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
O presidente da Anfavea avaliou ainda como “corajosa” a atitude do governo de enviar ao Congresso Nacional o Orçamento para 2016 prevendo déficit primário, o que ele chama de “orçamento verdadeiro. “Mas sabemos da necessidade de ter um superávit primário no cenário de ajuste. Por isso, espero uma solução positiva para o Brasil na tramitação no Congresso”, destacou.
Apesar dos elogios, Moan criticou a possibilidade de criação de novos impostos ou aumento de tributos no País. Na avaliação dele, “não cabe” mais aumento da carga tributária não só para a indústria automotiva, mas para a economia brasileira como um todo, pois o País já possui uma das maiores cargas do mundo, o que prejudica a competitividade da indústria.