Dificuldades em sentir prazer, mau humor repentino, estresse, pavio curto e um leve pessimismo podem ser alertas de que algo está errado, mas nem sempre representam um quadro grave ou alarmante. Segundo o psiquiatra Ricardo Moreno, do Hospital das Clínicas da FMUSP, para que esses sintomas sejam diagnosticados como doenças ou síndromes é necessária uma ampla avaliação médica.
"Não podemos confundir o mau humor normal com um problema crônico, ou seja, com uma doença que afeta a pessoa por diversos dias seguidos", alerta o especialista do Instituto de Psiquiatria do HC. Segundo ele, é natural que, de vez em quando, as pessoas apresentem uma ligeira variação de humor, e isso só deve preocupar quando o quadro permanecer por 15 dias ou mais.
A síndrome conhecida como distimia é a que mais confunde alguns mal humorados, que pensam estar doentes sem, necessariamente, estar. "Isso ocorre porque a distimia não precisa de um gatilho bem definido para aparecer", explica Ricardo Moreno. A distimia é uma forma de depressão mais leve, que atinge 5% da população mundial, e se manifesta por sintomas como: baixa auto-estima, situações de desamparo, baixa tolerância, excesso de melancolia, irritabilidade e alterações constantes de pensamento. "São sintomas de intensidade mais leve se comparado com episódios depressivos, mas que atormentam a pessoa por dezenas de dias seguidos", explica.
Quando não tratada e controlada, a distima leva à depressão aguda em 80% dos casos. "A maior incidência é no ‘adulto jovem, entre 20 e 25 anos, pois além de ser o período mais produtivo da vida, a personalidade da pessoa já se formou", observa.
O indivíduo com distimia não é impedido de realizar atividades do dia-a-dia, como trabalhar ou estudar. Ao contrário, ele deve tentar manter suas tarefas. Entretanto, um fator importante para diagnosticar a síndrome está no caso do paciente apresentar queda de rendimento nas atividades diárias. "Esses sintomas permanecem a maior parte do tempo e causam prejuízo e sofrimento para o indivíduo, em nível psicológico, nos relacionamentos e na vida profissional", afirma.
Diagnóstico precoce é fundamental
O psiquiatra alerta que, assim como algumas pessoas se dizem distímicas sem serem, muitos também ignoram a doença acreditando estar apenas mal humoradas. "Caso haja frequência nos sintomas e crie-se a suspeita da síndrome, a melhor opção é buscar o auxílio de um especialista", adverte Moreno, lembrando que o diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento.
A distimia não tem cura, mas como qualquer outro tipo de depressão, pode ser controlada. O tratamento é duradouro, à base de medicamentos e abordagens psicológicas e psicoterapêuticas. "Mesmo que o indivíduo venha a ter uma melhora significante, é importante persistir no tratamento, para evitar o aparecimento de novos episódios", esclarece.