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Quando ser mãe envolve espera maior que 9 meses

Quando engravidou, em 2015, a bibliotecária Tatiane Mendes de Souza Rocha, de 34 anos, mãe de primeira viagem, já imaginava quantas tarefas novas teria de assimilar para cuidar de Estevão. Não desconfiava, porém, que o maior desafio seria o de aprender a esperar. E ela aprendeu. Após dar à luz, foram 70 dias até Tatiane ser autorizada pelos médicos a pegar o filho no colo. Nove meses se passaram até que ela pudesse levar o menino do hospital para o lar. Um ano foi necessário para que Tatiane, enfim, comemorasse neste domingo (14) seu primeiro Dia das Mães com o filho em casa.

Estevão é considerado – pela mãe e pelos médicos – um milagre. Nasceu no dia 25 de abril do ano passado, na Pro Matre Paulista, pesando 680 gramas, aos cinco meses de gestação. “Minha gravidez era de risco porque eu podia ter trombose. Fiz repouso e me cuidei, mas, com 23 semanas, meu colo do útero não aguentou e ele nasceu”, conta Tatiane.

Duas semanas depois, no primeiro Dia das Mães da bibliotecária, a angústia predominava. Estevão continuava na UTI neonatal, entubado. “Era um misto de alegria com frustração e medo. Ele era muito pequenininho, parecia que ia sumir. Meu marido me deu um presente, almoçamos em família, mas não consegui celebrar de verdade. Sabia que era mãe, mas a maternidade não era palpável. Eu nem tinha sequer segurado meu filho no colo ainda.”

Os meses seguintes foram de mais dificuldades. O bebê precisou ser submetido a três cirurgias e, em duas delas, desenvolveu infecções generalizadas. “A fé virou o nosso último recurso. Ele continuava na UTI, e eu estava lá todos os dias, das 7 às 21 horas. Ficava ao lado da incubadora, cantava para ele, conversava. A gente foi acreditando na recuperação, e ele foi crescendo, ganhando peso”, relata.

No dia 27 de janeiro, Estevão finalmente foi para casa com a mãe. A data de hoje será comemorada por Tatiane com o mesmo almoço em família do ano passado, desta vez com Estevão tentando engatinhar entre os pés dos pais, rindo e batendo palmas. “Agora, a maternidade me parece completa.”

Presente. Poder ver de perto o sorriso, o olhar e os primeiros passos dos filhos tornou-se o maior presente de Dia das Mães para a dona de casa Karina Caitano Lopes Basílio, de 30 anos. No ano passado, ela também passou a data em uma UTI neonatal, com os gêmeos Gustavo e Isabella, nascidos prematuros de 32 semanas. Eles ficaram internados por 46 dias no Hospital Metropolitano. “Era muito sofrido. Ninguém espera ver o filho na UTI, com acesso (venoso) na cabeça. Mas, por outro lado, cada grama de peso que eles ganhavam era uma comemoração”, conta Karina.

Segundo Mariana Bonsaver, psicóloga da Pro Matre Paulista, a presença dos pais nesse período de internação é importante para a recuperação da criança. “Os bebês que têm esse carinho apresentam uma melhora clínica e de ganho de peso.”

Para o primeiro Dia das Mães de Karina com os filhos fora do hospital, a família planejou um piquenique no parque. “Vamos juntar a minha mãe, os meus irmãos e os meus filhos para essa festa. Demorei dez anos para conseguir engravidar e vivi um medo tão grande de perdê-los, mas agora vejo que é a coisa mais maravilhosa do mundo. Me tornei uma pessoa melhor”, diz ela.

Visão de mundo. É a mesma impressão que tem a representante comercial Aline Bertolozzi, de 35 anos, mãe de Leonardo, de 2 anos e 3 meses. Para ela, o filho chegou para mudar sua visão da vida. “Enxergo tudo de forma mais positiva e colorida. Antes eu me estressava com problemas no trabalho. Hoje vejo que não é nada”, comenta ela, que, depois de dois Dias das Mães no hospital, passará a data em casa com Léo e o marido.

Diagnosticado no pré-natal com atresia de traqueia – condição em que o órgão fica obstruído -, o menino precisou ser submetido a uma traqueostomia ainda na barriga da mãe. Foi o segundo procedimento do tipo feito no mundo. Uma semana depois da intervenção, porém, quando Aline estava com 25 semanas de gravidez, foi necessário um parto de emergência.

Durante a internação, Léo apresentou uma complicação que levou à remoção do seu intestino. O bebê se recuperou e, um ano depois do nascimento, foi para casa. Em maio do ano seguinte, pouco tempo antes do Dia das Mães, Léo foi internado de novo, com febre. Nada grave, mas Aline mais uma vez passava a data dentro do Hospital Samaritano. “O que conforta é que a gente monta uma rede de apoio entre as mães. Eu mesma formei um grupo de mensagens com mais de 500 mães no mundo cujos filhos têm o mesmo problema no intestino”, conta ela. Léo, embora já em casa, ainda precisará de um transplante do órgão. O procedimento é feito somente nos Estados Unidos e custa U$ 1 milhão. No Facebook, a família faz campanha para arrecadar a quantia em uma página batizada de Juntos pelo Léo.

E é pensando no filho que Aline celebrará a data de hoje. “A gente não vai almoçar fora porque preferimos ficar em casa por causa da imunidade dele. Mas, na nossa vida, todo detalhe é comemorado. Com o Léo feliz, tenho certeza de que o dia vai ser incrível.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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