A surpreendente destituição de Kevin McCarthy do cargo de presidente da Câmara dos Estados Unidos que paralisou o governo já provoca divisões dentro do Partido Republicano e nomes da ala considerada mais radical e próxima do ex-presidente Donald Trump já lançaram sua candidatura. A casa tenta eleger um novo presidente até a próxima semana.
O líder da maioria na Câmara, deputado Steve Scalise, se colocou na fila para o cargo, mas enfrenta um desafio imediato do deputado Jim Jordan, presidente do Comitê Judiciário e aliado próximo de Trump que também anunciou sua própria candidatura. Espera-se que outros nomes ainda surjam. Os candidatos estavam todos sondando potenciais apoiadores, mas nenhuma deliberação real deve ocorrer antes da próxima terça-feira, 10.
A vaga deixada por McCarthy tem criado preocupações crescentes no Capitólio e na Casa Branca sobre o destino da legislação sobre as despesas – incluindo o esperado financiamento para a Ucrânia – previsto para ser analisado dentro de 40 dias.
Na Casa Branca, o presidente Joe Biden fez um anúncio sobre seu projeto de alívio da dívida de empréstimos estudantis, abordando o caos na Câmara e apelando aos legisladores para mudarem a "atmosfera venenosa em Washington". "Não podemos e não devemos ser confrontados novamente com uma decisão de última hora ou uma atitude temerária que ameace fechar o governo", disse ele. "E sabemos o que temos que fazer, e temos que fazer isso em tempo hábil."
Depois de uma votação histórica para remover McCarthy do cargo de presidente na terça-feira, 3, os legisladores rapidamente deixaram Washington e se espalharam por seus distritos por todo o país, abandonando o Capitólio enquanto os republicanos permaneciam profundamente divididos sobre quem poderia liderar sua maioria.
A saída repentina e a estagnação na Câmara significaram que pouco poderia ser feito em Washington, mesmo quando o Congresso enfrenta o prazo de meados de novembro para decidir o orçamento do governo. Mesmo que a Câmara consiga selecionar seu novo presidente na próxima semana, levaria algum tempo para que essa pessoa iniciar os trabalhos.
"Vai demorar um pouco para colocar o trem de volta nos trilhos", disse o senador Markwayne Mullin, republicano de Oklahoma e ex-membro da Câmara que tem laços estreitos com seus colegas republicanos.
Os comentários sublinharam o caos que agora domina o Congresso americano, sem a capacidade de conduzir assuntos legislativos até que um sucessor para McCarthy seja escolhido. A decisão de McCarthy de não concorrer ao cargo novamente depois de ter sido deposto sem dificuldades pelas mãos da ala radical desencadeou uma corrida competitiva para sucedê-lo.
As discussões estão sendo lideradas por Patrick McHenry, da Carolina do Norte. McCarthy, um republicano da Califórnia, nomeou McHenry como o primeiro em uma lista de potenciais líderes interinos em caso de calamidade ou vacância, mas sua tarefa principal é presidir a eleição de um novo líder. McHenry há muito rejeita a possibilidade de ele próprio concorrer ao cargo mais importante, embora possa enfrentar uma pressão para fazê-lo se o partido não conseguir se unir em torno de outra escolha.
Jordan, o combativo presidente do Comitê Judiciário da Câmara, deixou claras suas intenções na manhã desta quarta, 4, ao se dirigir a um encontro de republicanos do Texas que conduziam entrevistas com os candidatos. Vinte e cinco republicanos do estado têm assento na Câmara, de um total de 221, tornando seus votos cruciais na disputa pela presidência.
"Acho que posso unir a base conservadora, o partido e a casa; é por isso que estou concorrendo", disse Jordan a caminho do almoço com os texanos.
No passado, Jordan teve desacordos frequentes com a liderança do seu próprio partido, mas construiu uma aliança com McCarthy. Quando os republicanos conquistaram a maioria na Câmara no ano passado, ele trabalhou mais em conjunto com o então presidente, já que era o chefe do Comitê Judiciário.
Já Scalise enviou uma carta a seus colegas nesta quarta expondo sua candidatura e enfatizando sua experiência como segundo em comando sob a liderança de McCarthy. "Tenho um histórico comprovado de reunir a diversidade de pontos de vista em nosso partido para construir consenso onde outros consideravam impossível", disse.
Outros nomes que surgiram como potenciais candidatos incluem o deputado Tom Cole, republicano de Oklahoma, bem como o terceiro republicano da Câmara, Tom Emmer, de Minnesota, que, de acordo com pessoas que conversaram com ele, está apoiando Scalise a assumir o segundo posto de líder da maioria.
Se a disputa for entre Scalise e Jordan, a briga será entre dois homens mais à direita do que McCarthy. Ambos votaram contra a certificação da vitória de Biden em 2020, quando Trump propagava mentiras sobre uma fraude eleitoral generalizada. E ambos foram presidentes do conservador Comitê de Estudo Republicano. Jordan também é cofundador do ultraconservador House Freedom Caucus, que antagonizou uma sucessão de presidentes da Câmara.
Ambos também enfrentaram o escrutínio de seu passado. Scalise pediu desculpas em 2014 por ter discursado em 2002 em uma reunião de nacionalistas brancos, e uma jornalista política disse que certa vez ele se descreveu para ela como "David Duke sem a bagagem", uma aparente referência ao ex-líder da Ku Klux Klan. Jordan negou as acusações de que fez vista grossa às queixas de abuso sexual cometidas por um médico da Universidade Estadual de Ohio, décadas atrás, quando ele era treinador assistente de luta livre lá.
De acordo com o atual calendário provisório, os republicanos pretendem realizar uma reunião do partido na terça-feira, na qual os candidatos poderão apresentar a sua candidatura perante os seus colegas, com a possibilidade de escolherem o seu presidente para uma possível votação em plenário na quarta-feira.
O indicado teria que ganhar a maioria na Câmara, uma tarefa difícil dada a escassa maioria dos republicanos e a divisão entre eles que tornou tão difícil para McCarthy ganhar o cargo e fazer o trabalho durante os nove meses em que ocupou a cadeira. Os republicanos de direita deixaram claro que não apoiarão um presidente sem garantias de que verão as suas prioridades, incluindo a promulgação de cortes profundos nas despesas e severas restrições à imigração, cumpridas.
Isso é quase impossível de prometer, dado que os democratas controlam o Senado e a Casa Branca. E a situação pode ser uma receita para mais disfunções no Capitólio, mais imediatamente nas negociações sobre gastos federais. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)