As reações da sociedade, sobretudo nas redes sociais e em entrevistas veiculadas na mídia, ao voto do ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão, que absolveu o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) pelos crimes de que foi acusado, demonstram que, mais que o resultado do julgamento, a opinião pública não irá aceitar passivamente um possível atestado de idoneidade dos acusados, que já se desenha na mais alta corte do país. “O juiz não deve ter medo das críticas, porque vota ou julga de acordo com sua consciência e de acordo com as leis. Não pode se pautar pela opinião pública ou a opinião publicada”, declarou o ministro após perceber a repercussão negativa de seu voto.
O revisor também absolveu o publicitário Marcos Valério e seus sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz das acusações de corrupção e peculato na Câmara dos Deputados. Para Lewandowski, as provas apresentadas durante estes sete anos não foram suficientes para convencê-lo. Diante da posição do ministro, indicado pelo cargo pelo ex-presidente Lula, ficou para a sociedade a nítida impressão de que – seja qual for o resultado do julgamento – niunguém neste país quer posar de idiota.
A possível (e até previsível) absolvição da maior parte dos acusados pode funcionar como um verdadeiro atentado ao estado democrático. Poderá confirmar uma velha máxima de que neste país, para quem detém o poder, tudo termina em pizza. Já a condenação daqueles que figuram como os grandes agentes do Mensalão, como o ex-ministro José Dirceu, entre outros líderos do governo da época, serviria para dar a impressão de que o Brasil é sério. Que não passa imune diante de um escândalo que envolve dinheiro público e benefícios diretos ao patido que está na administração.
Talvez, a absolvição – em vez de servir como um atestado de idoneidade, como quer fazer o PT – acabe sendo um tiro no pé, já que ficará a sensação dolorosa de que o Judiciário está a serviço dos interesses do Executivo. Talvez, para o bem do país, o voto de Lewandowski, seja exceção. Mas – infelizmente – pelo que tudo indica figura como a regra.