Recital de Gautier Capuçon recupera Beethoven

Beethoven foi atropelado pelo novo coronavírus. Em todo o mundo, comemorações pelos 250° aniversário do compositor, programadas ao longo dos últimos anos, foram canceladas ou adiadas para 2021.

No Brasil, não foi diferente. Mas, com orquestras voltando aos poucos a se apresentar, o compositor tem sido presença constante no repertório de palcos como a Sala São Paulo ou a Sala Cecília Meireles.

E estará também na principal atração da série digital da Cultura Artística em setembro: terça-feira (8), a entidade transmite em seus canais no Facebook, YouTube e Instagram um concerto exclusivo do violoncelista Gautier Capuçon com o pianista Jerôme Ducros com duas sonatas para violoncelo do compositor.

"Para nós foi especial ter a chance de conseguir comemorar Beethoven, mesmo que por meio de um recital transmitido digitalmente", diz Frederico Lohmann, superintendente da Cultura Artística. Ele explica que a apresentação não será ao vivo mas, sim, gravada hoje na sala da Steinway em Paris e, nesta terça, exibida pela internet, com comentários em tempo real da musicóloga Helen Gallo.

"Conversamos bastante com os músicos e, a certa altura, o Capuçon até se ofereceu para vir ao Brasil e gravar o concerto na Sala São Paulo. Mas no final das contas nos pareceu desnecessário, uma vez que não poderíamos ter a presença do público e que a gravação poderia ser feita da mesma forma em Paris." O músico também fará master classes para músicos brasileiros pela internet.

Capuçon é uma das estrelas do mundo musical da atualidade. Estava na série de concertos programada pela entidade para 2020, que precisou ser cancelada: a Cultura Artística decidiu retomar suas atividades presenciais apenas em junho do próximo ano e deve anunciar em novembro as dez atrações previstas. " Será um desafio em meio a tudo isso, em especial considerando um cenário de 40% de desvalorização cambial, mas estamos prontos para divulgar uma agenda da mesma qualidade da prevista para 2020."

Cancelamentos. "Pesquisamos em nosso acervo e o período de 18 meses em que ficaremos sem concertos ao vivo é o mais longo que já tivemos sem atividades em mais de cem horas de história", diz Lohmann, para quem a decisão de cancelar todos os concertos foi tomado aos poucos, "caso a caso".

"Ainda em maio, nós remarcamos um dos concertos previstos, o do Trio Wanderer, para novembro. Achávamos, então, que precisaríamos cancelar dois ou três concertos. Mas com o tempo vimos que a paralisação seria mais longa do que havíamos imaginado, sempre em respeito às orientações das autoridades sanitárias. Ainda assim, tentamos ser os mais cuidadosos possíveis."

O cuidado diz respeito a uma questão prática. Para que uma turnê de um conjunto europeu ou americano pela América Latina aconteça, é preciso oferecer aos artistas a chance de fazer de cinco a seis concertos pelo menos, tocando, além do Brasil, em outras capitais. "Dois desses concertos são sempre nossos. Então, cancelar apresentações por aqui muitas vezes significa inviabilizar a presença do artista na Argentina, no Peru, na Colômbia. Mas, quando Lima e Bogotá anunciaram cancelamentos, as turnês foram se inviabilizando sozinhas", explica Lohmann.

A Cultura Artística oferece a seus assinantes, que pagaram pela temporada 2020, três opções: doar o valor pago, transferir a assinatura para o próximo ano ou receber o reembolso. "Contamos muito com a confiança do público. Até agora, dos 1.800 assinantes, apenas 30 pediram o dinheiro de volta."

Internet. A decisão de não transmitir o concerto de Capuçon ao vivo tem a ver, de acordo com Lohmann, com a busca da qualidade. "Estamos todos aprendendo como fazer isso, como manter a qualidade do som. É um desafio grande e achamos que não precisaríamos correr os riscos naturais de uma transmissão ao vivo desse porte."

Lohmann acredita que a pandemia trouxe ensinamentos para todas as instituições. "O digital é potente, chega a um público mais amplo. As palestras que estamos realizando estão alcançando um público que não se compara àquele que nos acompanhava presencialmente. É algo que veio para ficar e já estamos estudando como manter iniciativas. Temos que pensar com cuidado não apenas no conteúdo, mas também na forma, pois a internet exige novas maneiras de se passar esse conteúdo e nós temos que pesquisar e entender isso."

Mas, para Lohmann, a pandemia trouxe outras percepções. "Debatemos muito sobre o que esse momento traz de ensinamentos. Um deles é de que nosso investimento em atividades educacionais é, de fato, um caminho importante. E o outro tem a ver com nosso novo teatro, cujo projeto foi a certa altura revisado, com salas menores e mais intimistas. Parece ter sido a opção correta quando pensamos que as viagens de grandes grupos e orquestras serão mais raras. Elas dependem de apoio dos governos europeus, que nos últimos dez anos já haviam cortado ajuda e devem fazer isso ainda mais a partir de agora." As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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