Novo homem mais rápido do mundo desde os Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano passado, quando herdou a coroa de Usain Bolt, o italiano Lamont Marcell Jacobs não se dá por satisfeito e quer mais. Aos 27 anos e cheio de planos, que incluem apoiar jovens talentos do seu país para além do esporte, ele persegue agora novos recordes. A incrível marca de 9s58 de Bolt nos 100 metros já dura quase 13 anos – desde agosto de 2009 -, mas Marcell está disposto a mostrar que não é um tempo inatingível, como muitos imaginam.
"Não há limites. Recordes são feitos para serem quebrados", disse, confiante, ao <b>Estadão</b>. Nos Jogos de Tóquio, ele estava longe da lista de cotados ao pódio, mas surpreendeu a todos quando cravou 9s80 e passou a ser o primeiro italiano campeão olímpico dos 100 metros na história.
Depois, Marcell ainda faturou no mesmo estádio Olímpico de Tóquio o ouro por equipes no revezamento 4×100 metros, confirmando a sua ótima fase. Agora, quer surpreender mais uma vez. "Todo mundo vai mirar em mim e estou pronto para isso."
Filho de mãe italiana e pai americano, o velocista nasceu nos Estados Unidos, na cidade de El Paso, no Texas, e se mostra bastante preocupado com questões fora das pistas de atletismo também. Nas redes sociais, por exemplo, se posicionou pelo fim da guerra da Ucrânia.
<b>Quais são suas principais lembranças dos Jogos Olímpicos de Tóquio?</b>
Às vezes, parece que a Olimpíada aconteceu tão rápido. Tenho ótimas lembranças do tempo que passei em Tóquio e sinto uma enorme gratidão pelo povo japonês pela maravilhosa organização dos Jogos e pela hospitalidade que recebi.
<b>Quais são seus objetivos para 2022?</b>
Depois da Olimpíada, eu estava muito cansado física e emocionalmente. A temporada foi longa e eu estava muito comprometido com o meu desempenho. Claro que ganhar duas medalhas de ouro em Tóquio foi um momento incrível, mas depois disso eu realmente precisava descansar. 2022 é uma temporada importante. Todo mundo vai mirar em mim e estou pronto para isso.
<b>O que você espera do próximo Campeonato Mundial de Atletismo, que será disputado em julho, nos Estados Unidos?</b>
Adoro estar no estádio, ouvir o tiro de largada e correr ao lado dos meus concorrentes. Sou muito exigente comigo mesmo, então estou planejando apenas ser capaz de dar tudo de mim.
<b>Como a Itália se tornou uma nova potência do atletismo?</b>
Muitas crianças estão se voltando para o atletismo, o que significa que há muito mais talentos competindo.
<b>Como você se mantém motivado?</b>
É fácil ficar motivado quando você está fazendo o que ama.
<b>O que te deixa mais feliz?</b>
Claro que amo correr, mas o mais importante na minha vida é a minha família: minha mãe, minha mulher, meus irmãos e meus filhos. Também fico feliz quando estou ouvindo música. É algo que sempre me acompanha.
<b>Agora que você é o homem mais rápido do mundo, qual é a parte mais complicada de ter um dos rostos mais famosos do planeta?</b>
As pessoas me reconhecem quando estou andando na rua. Às vezes, pedem para tirar selfies, às vezes só querem me parabenizar. É uma honra competir pelo meu país e ter dado o ouro olímpico ao povo italiano, especialmente por todas as dificuldades pelas quais a Itália passou nos últimos dois anos em meio à pandemia. Mas, realmente, minha vida cotidiana é exatamente a mesma. Eu treino no mesmo estádio, com as mesmas pessoas ao meu redor. Às vezes, se eu não chegar cedo, nem consigo escolher a música que está tocando nos alto-falantes do estádio.
<b>Em Tóquio, no ano passado, você bateu o seu próprio recorde pessoal nos 100 metros com 9,80 segundos para suceder Bolt como campeão olímpico. Como correr mais rápido daqui em diante?</b>
Não há limites. Recordes são feitos para serem quebrados. Estou muito honrado por ser mencionado na mesma categoria que Usain Bolt. Ele sempre foi um herói para mim.
<b>Você sente que seria mais rápido se alguém o estivesse impulsionando?</b>
Aprendi que o mais importante é parar de olhar para o que os outros estão fazendo, parar de pensar no que os outros estão pensando e me concentrar somente no que estou fazendo.
<b>Você já alcançou todos os seus objetivos?</b>
Como eu disse antes, acredito que não há limites. Mas também tenho outros objetivos fora do atletismo. Gostaria de fazer algo com a juventude, ajudando a motivá-los. Estou pensando em uma estrutura que possa apoiar e ajudar a manter as crianças focadas, tanto no atletismo quanto em seus objetivos de vida.
<b>Infelizmente, ainda existem muitos casos de doping no esporte. Como você poderia contribuir para deixar o esporte mais limpo?</b>
Estou realmente cansado e também frustrado com as questões de doping, mas entendo que o público está interessado nesta questão, especialmente após os recentes eventos envolvendo a equipe de revezamento do Reino Unido (o time perdeu a medalha de prata conquistada em Tóquio após um competidor ser flagrado no exame antidoping). Como atleta, tudo o que posso dizer é: não faça isso. Para mim, competir pelo meu país é uma honra e um privilégio que eu nunca faria nada para minar.