Palco de greves nos anos 1970, São Bernardo do Campo, no ABC paulista, estava ontem mais para indiferente do que indignada com a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em primeira instância, no âmbito da Lava Jato. Anteontem, o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, sentenciou o petista a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ao longo do dia, não houve manifestações de apoio nem de repúdio ao ex-presidente na frente do prédio onde mora, nem no sindicato que comandou e no qual se projetou nacionalmente como líder sindical nos anos 1970, nem nas portas das fábricas. Um misto de desilusão e fé entre os metalúrgicos definia a imagem de Lula no seu berço político.
No acesso à fábrica da Mercedes-Benz, os metalúrgicos falavam de Lula, mas a preocupação maior era a reforma trabalhista. Entre os trabalhadores, o serralheiro Clodoaldo Campos, de 38 anos, disse aprovar a decisão de Moro. “A gente, que é metalúrgico, colocava a mão no fogo por ele. Hoje em dia, na empresa, você vê muito peão dividido um com o outro. Para a gente, ele era que nem um rei”, disse o morador da Praia Grande, na Baixada Santista.
A analista de sistemas de gestão da empresa no ABC Camila Dutra, de 28 anos, disse que comemorar a condenação de Lula não tem viés ideológico. “O que mais precisa de evidências para saber que ele cometeu algumas infrações? Tem muita evidência. Não é porque a gente não gosta do partido”, afirmou.
Empregado na fábrica desde os 14 anos, quando ainda era aprendiz, o engenheiro de produção Luiz Carvalho, de 37 anos, disse que não vota em Lula desde o mensalão. “O fato de ele ser de origem metalúrgica não significa que os preceitos que ele segue ou prega sejam os mesmos conceitos éticos que a gente acredita, com certeza não são”, afirmou. “Quando ele assumiu o poder, foi uma esperança para todos nós, mas, agora, para mim, perdeu o crédito total.”
Há metalúrgicos que minimizam a culpa de Lula, conforme sentenciou Moro. Mecânico montador, Luís Carlos, de 35 anos, é um deles. “Político nenhum é inocente, mas o que fizeram com ele aí, acho que o Brasil não gostou, não”, disse.
O técnico de segurança Édipo Alves, de 29 anos, disse que não votaria no ex-presidente, mas ressaltou que não está convencido de que ele é culpado. “A princípio não tem como saber se foi certo ou errado (a condenação). Ao meu ver, não tem provas suficientes ainda.”
Alves disse, ao fim da jornada na fábrica, que o tema foi pouco discutido ao longo do dia, o que também foi ressaltado pelo ajustador mecânico Vlanir Oliveira, de 51 anos. “O que mais está se comentando (na fábrica) hoje (ontem) é a reforma trabalhista. O pessoal está mais preocupado com a reforma. Do Lula, teve repercussão quase nenhuma.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.