Uma avaliação da inteligência dos Estados Unidos sobre as alegações de Israel de que membros da agência humanitária da ONU participaram no ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro colocou em dúvida a acusação de ligações amplas entre funcionários da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês) e o grupo. O relatório diz ainda que acusações sobre o envolvimento de alguns desses funcionários com o ataque podem ser críveis, embora não pudessem ser verificadas de forma independente, revelou o <i>The Wall Street Journal</i>.
No início deste ano, Israel acusou 12 funcionários da UNRWA de participarem nos ataques que deixaram mais de 1200 israelenses mortos e desencadearam a guerra na Faixa de Gaza. Também afirmou que 10% de todos os trabalhadores da agência eram afiliados ao Hamas. A acusação fez os EUA e países europeus retirarem as ajudas que forneciam à agência, enquanto o Brasil prometeu aumentar o montante doado.
O jornal cita pessoas com conhecimento do conteúdo do relatório que circulou no governo americano na semana passada. A avaliação, tal como descrita pelos responsáveis, não contesta as alegações de Israel, mas fornece uma avaliação mais comedida do que as declarações públicas de responsáveis dos EUA e de Israel.
De acordo com o <i>Wall Street Journal</i>, o relatório de inteligência disse ter baixa confiança na alegação de que vários funcionários da agência tenham participado no ataque, indicando que considerava as acusações críveis, mas que Israel não havia compartilhado as informações brutas para que fossem analisadas.
O documento, porém, lançou dúvidas sobre as acusações de que a agência da ONU estava colaborando com o Hamas de uma forma mais ampla. Segundo o jornal, o relatório mencionava que, embora a UNRWA coordene com o Hamas para fornecer ajuda e operar na região, faltam evidências que sugiram que ela fez parceria com o grupo.
O relatório também observa o que diz ser uma antipatia de longa data de Israel pela agência da ONU, disseram duas pessoas familiarizadas com o documento ao jornal. "Há uma seção específica que menciona como o viés israelense serve para descaracterizar muitas das suas avaliações sobre a UNRWA e diz que isso resultou em distorções", disse uma pessoa familiarizada com o relatório.
O relatório de quatro páginas do Conselho Nacional de Inteligência foi distribuído entre funcionários do governo dos EUA na semana passada, informou o jornal.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chamou no mês passado as afirmações israelenses de "altamente plausíveis", mas também disse que a agência desempenhou um papel essencial no fornecimento de ajuda às pessoas em Gaza.
A UNRWA demitiu nove funcionários supostamente envolvidos no ataque de 7 de outubro, o mais mortal da história de Israel, e a ONU lançou a sua própria investigação sobre as alegações. A agência também questionou como Israel chegou aos números de ligações mais amplas com o Hamas e outros grupos.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse ter ficado "horrorizado com estas acusações", mas implorou às nações que suspenderam os seus pagamentos de ajuda que reconsiderassem. A UNRWA é um dos maiores empregadores em Gaza, com 13 mil pessoas, a maioria palestinos, em seus funcionários.
Enquanto EUA e países europeus anunciaram o corte no financiamento à agência após a denúncia, colocando em xeque o funcionamento do trabalho em Gaza, o governo brasileiro prometeu ampliar os repasses à agência.
"O Brasil exorta a comunidade internacional a manter e reforçar suas contribuições para o bom funcionamento das suas atividades. Meu governo fará aporte adicional de recursos para a agência", afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Brasil também integra a Comissão Consultiva da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestino. As recentes denúncias contra funcionários da UNRWA precisam ser devidamente investigadas, mas não podem paralisá-la."