Lideranças do Partido Republicano e o próprio Donald Trump partiram para o ataque contra as duas principais redes sociais do país, o Facebook e o Twitter, depois de medidas que os governistas viram como censura política, mas que as empresas dizem terem sido baseadas em suas políticas para reduzir a veiculação de notícias falsas. Entre as ações estava a suspensão temporária da conta no Twitter da campanha do presidente à reeleição.
No centro da controvérsia está uma matéria publicada pelo tabloide <i>New York Post </i>na quarta-feira, 14, que apresenta supostas provas de que o filho de Joe Biden, Hunter, teria usado sua influência para apresentar um executivo ucraniano ao seu pai. A publicação diz que a história é baseada em e-mails encontrados em um computador deixado em uma loja de assistência técnica em abril do ano passado, mas analistas de segurança e boa parte da imprensa americana apontam sinais de que se trataria de uma farsa criada com objetivos eleitorais.
Horas depois de o <i>New York Post</i> – que pertence a Rupert Murdoch, mesmo dono da Fox News – estampar a matéria em sua capa, tanto o Facebook como o Twitter, em uma ação incomum contra veículos de imprensa, restringiram os compartilhamentos da história, alegando que ela continha elementos que mostravam se tratar de um ato deliberado de desinformação e possível violação de privacidade.
"Quero deixar claro que a história precisa ser confirmada pelos checadores de fatos parceiros do Facebook. Enquanto isso, estamos reduzindo sua distribuição na nossa plataforma", disse o chefe de políticas de comunicação da empresa, Andy Stone, no Twitter, na quarta-feira.
Imediatamente, dezenas de pessoas ligadas a Trump foram às redes sociais apontar o que consideravam ser censura. O próprio <i>Post</i> declarou, em editorial publicado no começo da tarde, que "a imagem do Facebook como uma rede social neutra acabou", e que a empresa, ao lado do Twitter, "entrou no campo pró-Biden".
<b>Campanha punida</b>
No dia seguinte, a conta oficial da campanha de Trump à reeleição no Twitter foi suspensa depois de publicar um vídeo de Hunter Biden ligado à história do <i>Post</i>, que a empresa considerou ser uma violação às suas regras. As contas da porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, e do próprio jornal também sofreram restrições.
A conta da campanha voltou ao ar horas depois, e voltou a postar o vídeo, mas com alterações que, para o Twitter, o tornaram adequado à rede social. Mas o campo de batalha já estava montado.
"Isso tudo vai acabar em um grande processo, e há coisas que podem acontecer que são muito graves e que preferiria que não acontecessem, mas que provavelmente vão acontecer", disse Trump, ao ser questionado nesta quinta-feira (15).
Mais tarde, em comício na Carolina do Norte, ele defendeu o fim da Seção 230 do Ato de Decência nas Comunicações, de 1996, uma lei que, com algumas exceções, afirma que as empresas de tecnologia não podem ser legalmente responsabilizadas pelo que é publicado em suas plataformas.
No Congresso, deputados e senadores republicanos também criticaram as ações do Twitter e do Facebook. O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, disse que a medida era "repreensível" e que não deveria haver uma "polícia do discurso" nos EUA. A Comissão de Justiça da Casa, dominada pelos governistas, vai votar na semana que vem uma convocação para que o presidente do Twitter, Jack Dorsey, preste depoimento na comissão, provavelmente no dia 23.
Publicada com grande alarde pelo <i>New York Post</i> e replicada por apoiadores de Donald Trump, a matéria aponta Hunter Biden como alguém que usa a influência do pai para alavancar seus negócios, especialmente na Burisma, empresa do setor de energia da Ucrânia onde trabalhou.
A base da história, segundo o jornal, é um laptop entregue a uma loja assistência técnica em Delaware, no ano passado, por um cliente não identificado e que trazia no seu exterior um adesivo da Fundação Beau Biden, filho de Joe Biden morto em 2015. A publicação afirma que o equipamento foi apreendido pelo FBI em dezembro, mas que, antes disso, o dono da loja fez uma cópia do material e o entregou ao advogado do ex-prefeito de Nova York e aliado próximo de Trump Rudolph Giuliani.
Segundo o <i>Post</i>, as informações foram mantidas em sigilo até setembro, quando o ex-estrategista de Trump Steve Bannon "alertou o <i>New York Post</i> sobre sua existência", e Giuliani repassou as informações ao jornal no último domingo.
A campanha de Joe Biden rejeitou as acusações, em especial as que diziam respeito a um encontro entre o então vice-presidente e o empresário ucraniano. Além disso, questiona o jornal por ter apresentado "alegações soltas", e por não ter questionado Giuliani ou Bannon sobre o material que eles diziam ter.
O advogado de Giuliani, Robert Costello, afirmou ter sido alertado por uma pessoa que se aproximou dele dizendo ter informações sobre Hunter Biden, algo que o fez também avisar o FBI. Não se sabe se existe uma investigação em curso.
Em matéria sobre o caso, o <i>New York Times</i> levanta suspeitas sobre a veracidade dos e-mails apresentados na matéria, além da grande quantidade de perguntas sem respostas e alegações baseadas em alegações frágeis.
No Twitter, Thomas Rid, professor da Universidade Johns Hopkins e especialista em atos de desinformação, também disse ver inconsistências. Uma delas é o fato de os e-mails terem sido apresentados em formato de imagem, o que dificulta a análise de metadados. Outra é o fato de outros documentos terem data de criação posterior à suposta entrega do computador à assistência técnica, em abril de 2019, o que sugere manipulação dos dados. (Com agências internacionais).