Economia

Ricupero alerta para dificuldade de acordo com EUA

O embaixador Rubens Ricupero alertou para as dificuldades de um acordo comercial entre Brasil e Estados Unidos em um futuro próximo, independentemente de quem vencer a eleição presidencial no domingo, 26. “Os problemas existem dos dois lados. Vai haver uma mudança aqui, mas lá nos EUA também. Há uma eleição no Congresso, e pelo que tudo indica isso pode complicar ainda mais”, disse, em conversa com jornalistas promovida pela FAAP. Ele lembrou que há a possibilidade de os republicanos ganharem o controle do Senado. Isso significaria que o presidente Barack Obama teria que governar por dois anos sem o apoio do Congresso.

O Brasil ainda enfrenta entraves de vários setores norte-americanos a um acordo comercial. Ele citou o lobby feito no Congresso por setores como o agrícola do sul dos EUA, os produtores de laranja da Flórida, os produtores de algodão no Texas, além de barreiras no setor do tabaco e do açúcar. “A oposição a um acordo com o Brasil não é desprezível”, afirmou.

Para Ricupero, que foi embaixador brasileiro nos EUA em duas ocasiões, no fim deveria haver uma aprovação, mas esse seria um processo lento. Ele também lembrou que a indústria brasileira vive uma fase aguda de perda de competitividade, o que dificulta uma abertura maior. “Com todo o protecionismo, a indústria não consegue evitar o aumento constante da China”, disse. Ricupero também lembrou que o que faz diferença em comércio internacional não são necessariamente os acordos, mas a capacidade de oferecer produtos de qualidade e com preço baixo. “O problema de competitividade da indústria só será resolvido se o futuro governo, seja quem for, tiver desempenho econômico melhor do que o que teve até agora. Os problemas dependem de câmbio, impostos, custo de capital, burocracia e falta de infraestrutura”, citou.

O embaixador acrescentou ter visto, de início, um desejo de Dilma Rousseff de retificar algumas decisões do ex-presidente Lula. Entre as questões criticadas por Ricupero está a atuação no Oriente Médio, na qual ele avaliou como “ambições um pouco ambiciosas demais”. “Havia a impressão de que Dilma queria mudar, ela escolheu Antônio Patriota, que era embaixador em Washington, como ministro”, lembrou. No entanto, as relações voltaram a estremecer após as denúncias de espionagem apresentadas pelo analista de sistemas da NSA Edward Snowden.

Para Ricupero, esse episódio deixou a relação entre Brasil e EUA mais ou menos adormecida, mas não esquecida. Ele também lembrou que os EUA são um mercado mais importante que a China, porque as exportações para os norte-americanos envolvem produtos de maior valor adicionado, e defendeu uma aproximação maior com o México.

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