A queda dos juros provocou um rearranjo no cenário dos investimentos, tornando mais desafiadora a tarefa de montar uma carteira de aplicações. Por isso, cresceu a parcela de investidores que optou por delegar a algoritmos a missão de escolher o que fazer. Oferecidos por fintechs (como são chamadas as empresas que criam inovações na área financeira), os “robôs de investimento” criam, de forma automatizada, portfólios de acordo com o perfil do investidor – a custos, em geral, mais baixos que as taxas de administração cobradas do aplicador de pequeno porte.
Segundo levantamento do buscador de investimentos Yubb, os quatro maiores robôs do Brasil – Warren, Monetus, Magnetis e Vérios – apresentaram em 2017 a maior rentabilidade média do mercado: 131,54% do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic). Por pouco, eles ficaram à frente da média dos fundos multimercado, que renderam no período 130,14% do CDI.
Logo abaixo ficaram os Recibos de Depósitos Bancários (RDBs), as Letras de Câmbio (LCs) e os Certificados de Depósito Bancário (CDBs). O levantamento foi feito com 5,4 mil fundos e 1,3 mil investimentos de 120 instituições financeiras. Foi considerada a rentabilidade bruta das aplicações, sem o desconto do Imposto de Renda.
Para Luciano Tavares, fundador da Magnetis, fintech que atua no mercado desde 2015, a filosofia dos robôs para atingir o resultado é baseada na diversificação. “A premissa é montar uma carteira com vários ativos diferentes que, combinados entre si, trazem o melhor retorno a um risco adequado ao perfil do investidor”, diz.
O robô da Magnetis monta uma carteira com fundos DI, fundos multimercado, títulos privados de renda fixa e ETFs. O número de clientes crescei quatro vezes em 2017 ante 2016.
Estratégia
Apesar de todos utilizarem algoritmos e atraírem pela facilidade, os robôs utilizam estratégias diferentes. Lançado no início do ano passado, o Warren faz gestão passiva dos recursos.
“A gente monta portfólios para que eles tenham a melhor performance com o menor risco”, explica o sócio-fundador Tito Gusmão.
Quem investe no Warren – a partir de R$ 100 – é cotista de fundos que aplicam em títulos do Tesouro Direto e ETFs. O mais conservador aplica 100% em renda fixa, e o mais agressivo, 66%. A empresa tem 25 mil clientes e R$ 150 milhões sob gestão.
Já a mineira Monetus faz gestão ativa das carteiras. Além de títulos de renda fixa públicos, privados e ETFs, o portfólio é composto de ações. O robô define os porcentuais de cada papel, mas as empresas ficam a cargo do gestor.
“Escolhemos cada uma das ações que compõem a nossa carteira, acompanhamos de perto. Por isso, 84% dos nossos clientes estão com rentabilidade acima do que projetaram”, diz Daniel Calonge, presidente e cofundador da empresa.
Criada no início de 2012, a Monetus nasceu como uma gestora para a alta renda. Foi só no final de 2016 que a empresa virou a chave para o mundo digital. “Queremos oferecer para quem investe R$ 100 a mesma rentabilidade de quem investe R$ 1 milhão”, diz.
Em um ano, a empresa angariou 14,6 mil clientes e R$ 72 milhões sob gestão. No ano passado, o perfil mais conservador teve uma rentabilidade média de 9,93%. Já o perfil mais arrojado, chamado de “Risco 5”, viu seu patrimônio crescer 29,44%. A taxa de gestão é de 0,60% ao ano.
Os algoritmos também permitem a rápida reação a movimentos de mercado, aproveitando oportunidades. No dia em que veio à tona a gravação de Joesley Batista – quando não só as operações da Bolsa, mas também as negociações de títulos praticamente pararam -, os robôs tinham “sangue-frio” para continuar operando.
“Avisamos que, apesar do susto, era um bom dia para os clientes depositarem”, conta Felipe Sotto-Maior, presidente da plataforma Vérios.
Ele explica que, quando o investidor faz um depósito, o robô compra os ativos mais baratos que fazem sentido para aquele perfil. A Vérios tem hoje sob a gestão mais de R$ 170 milhões.
Apesar da facilidade e baixo custo dos robôs de investimento na comparação com a maioria dos fundos, Sean Butler, planejador financeiro certificado pela Planejar, destaca que eles não isentam o investidor de buscar conhecimento – ou mesmo ajuda especializada. “Eles são uma ótima opção para diversificação, mas a presença de um assessor ou consultor financeiro é relevante sempre, pois há variáveis para além da rentabilidade que o robô, por excelência, não capta”, observa. “Não é só delegar ao robô, sem querer saber o detalhamento da estratégia e se ela é adequada ao seu perfil de risco.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.